sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

As escolhas do coração


Nesses últimos dias sem escrever estava me reabastecendo com leituras e pedindo a sabedoria de Deus para que, ao escrever novamente, pudesse chegar, por meio das palavras, ao coração de cada leitor.

Os autores que li são da Escola de Frankfurt, na Alemanha, criada após a Segunda Guerra Mundial . Foram pensadores marxistas e anti-nazistas, que por lutarem por uma sociedade livre e democrática, são exilados, muitos nos EUA e lá também fundam outra escola que irá oferecer, nas últimas décadas, grande fundamentação teórica para aqueles que lutam e acreditam num mundo menos excludente, mais humanizado.
Dentre os teóricos, Gramsci, Marcuse, Horkheimer, Adorno, Benjamin...

Todos esses intelectuais críticos se recusaram a tarefa a eles prescrita pelo capitalismo de servir passivamente às disposições ideológicas e institucionais existentes. Teóricos comprometidos, irrevogavelmente com os oprimidos, os marginalizados, os excluídos, os empobrecidos...

Deixaram registrado na história, alguns até profeticamente, os rumos que a sociedade capitalista tomaria caso deixasse que o individualismo e a autonomia em relação às necessidades dos outros se configurassem em proporção global, como temos vivenciado.

Foram homens que enxergaram longe... para além do fato real da história e projetaram as conseqüências desastrosas da modernidade...

Mas a verdade é que, desde o início das civilizações, houve opressores e oprimidos. Gênesis relata a história de um povo chamado hebreu, escravo dos egípcios, que contribuíram para o enriquecimento faraônico e de toda aquela nação às custas do trabalho escravo.

Roma, babilônicos, subjugaram judeus... e hoje, o Grande Império que mantém um casamento do inferno com os EUA subjugam os povos dos países pobres...

Talvez Jonas tenha sido um Gramsci a seu tempo... inconformado com a subjugação pela qual seu povo estava enfrentando com os ninivitas, embora covarde frente à situação opressora, diferentemente do teórico frankfurtiano.

Deus ordena a Jonas que envie sua Palavra aos ninivitas.
O problema do profeta Jonas era que ele não queria pregar para os opressores políticos e econômicos de seu povo. Assim, quando Deus diz: “Prega; ou Nínive será subvertida!”; Jonas vai para o mar, embarcando num navio que ia para Tarsis, no sul da Espanha de hoje.

Pedro também tinha inimigos que ele certamente queria ver aniquilados. Entre esses, além dos romanos, os cobradores de imposto, gente como Mateus, o publicano de Cafarnaum, cidade onde Pedro morava, e onde pagava os impostos. Mateus seria o último homem para quem Pedro iria pregar nas redondezas. Além disso, Mateus era um dos homens mais ricos de toda a região, e tirava sua riqueza do árduo trabalho de gente simples e honesta como Pedro.

O que tornava a situação ainda mais opressiva e amargurante era o fato de que os impostos eram pagos naqueles dias de um modo perverso. No caso de um pescador como Pedro, tudo o que ele pegava no mar era entregue ao coletor de imposto; e, em troca, ele devolvia o ganho do pescador na forma de peixe salgado, de qualidade inferior, e ainda com o valor do imposto deduzido. Mateus estava para Pedro assim como os Ninivitas estavam para Jonas.

No entanto, quando Jesus passou mais tarde por Mateus, e disse: “Segue-me”—Mateus o seguiu sem hesitação. O amor constrange!
Só Deus sabe o que esse ato pode ter provocado na mente de Mateus.
Pedro acolhe a Mateus, e o chama de irmão, e esquece o peixe seco, e aceita ser com ele: pescador de homens.
Já o profeta Jonas acaba sendo forçado a pregar aos inimigos, faz isto com rancor; e, diante do arrependimento deles, se ira, posto que os interesses políticos, ideológicos, e a força dos preconceitos, havia ainda sobrevivido mesmo à viagem insólita, no fundo do mar, no estomago do grande peixe.

Assim, Jonas se ira com Deus. E o arrependimento dos inimigos o torna mal e hostil, tomado de rancor homicida. E, desse modo, mergulha no mar da amargura e do egoísmo, tendo seus valores tão alterados emocionalmente que é capaz de chorar por uma erva que secara sobre sua cabeça, enquanto não conseguia ter piedade daqueles milhares de ninivitas (Caio Fábio)

Assim, a lição que podemos aprender tanto dos intelectuais críticos quanto de Jonas e Pedro é que tudo neste mundo é fruto das escolhas do coração.

Os grandes pensadores críticos influenciaram e ainda influenciam os que se dispõem a lutar por uma sociedade melhor por meio de sua ação positiva frente a esse mundo.
Jonas se torna exemplo de covardia e amargura que faz submergir o ser no oceano das hostilidades emocionais. Amor, acolhimento, perdão e abertura para a Graça, todavia, é o que torna inimigos em irmãos, a exemplo de Pedro.

Jonas, homem ao mar...
Pedro, homem do mar...

A quem você escolhe para ser exemplo de vida frente a esse mundo excludente, que subjuga povos e nações a mão de ferro pelos poderosos...?
A escolha é sua, mas quem optar pelo segundo, não se afogará... e poderá até “andar sobre as águas”...
Grande beijo