" A visão científica aperfeiçoa a compreensão mas pode,
imperceptivelmente, subtraí-la ao homem. Uma vez separadas e purificadas do denominador comum mítico, a astrologia tornou-se a astronomia e a alquimia, química. O conhecimento delas se acelerou, mas, juntamente com o mito, o saber tornou inconsciente o aglutinante psicológico. A astrologia era um aglomerado de astronomia ingênua com psicologia; a alquimia, de química ingênua com psicologia.
Expulsando o homem real - aquele que não é só bioquímico-, as ciências individuais progridem vertiginosamente como saber específico, mas a soma dos conhecimentos que delas deriva pode revelar-se frágil porque foi perdido o critério unificador, o cógico humanista completo. Suas explicações se distanciam cada vez mais das narrações, porque a narrativa que 'convence' (do latim, convincere, conquistar, atrair, trazer para si) pressupõe um fundo mítico que lhe dê som profundo: a simples exposição dos fatos escorrega dentro de nós de maneira inerte e se fraciona em todas as direções, como fluxo de água que não encontra leito no qual correr ou sons que não encontram caixa de ressonância" (Luigi Zoja, História da Arrogância)
Apropriando-me dos dizeres de Zoja ao criticar a sociedade da técnica, que substituiu a narrativa pela informação, o mito pela ciência, evoco a simplicidade da linguagem bíblica e o seu valor poético, metafórico e, sobretudo, narrativo... pois nesse cenário da técnica, a Teologia "cientificizou" Deus...
A Revelação Divina deu lugar à Bibliologia...
O Verbo Vivo foi substituído pela Cristologia...
Ao invés do Consolador, essência de Deus em nós, prevalece a Pneumatologia...
A mensagem de esperança agora se chama Escatologia...
Fazer das Escrituras a Palavra de Deus ser viva em nós é ressignificar, cotidianamente, o já conhecido...
Nos dizeres de Zoja:
E ainda:
A narrativa bíblica, todavia, não pode ser moldada nos formatos científicos ou técnicos...
Ela é viva...
Produz vida...
Encanta o ser...
Eleva a alma...
Alimenta o espírito...
E sua excelência está no fato de ser o próprio Deus Encarnado o Grande Narrador...
E é Ele quem restitui em nós o "sentido da existência"...
Que Deus nos livre do homem tecnológico, que substituiu o mito pela ciência, a narração pela técnica, e nos faça co-participantes de toda trama existencial por meio da Palavra Viva - narração do próprio Deus a nós.
Vanessa