domingo, 13 de julho de 2008

Um brinde à felicidade...




Às onze e meia do dia 3 de junho de 1971 você nasceu, de parto normal, como orgulhosamente seus pais contam. Um menino forte, que teve uma mãe-preta, mãe de leite, como os antigos diziam.

Seu pai, um militar carioca recém-chegado ao quartel de Uberaba. Sua mãe, recém-formada no magistério, embora nunca viesse a exercer a profissão. Destinos cruzados que me trouxem você.

Nascido em Uberaba, passou lá a primeira infância, junto a seu único irmão. Você com quase cinco, ele com quase três.

Sei que tiveram uma infância feliz, pais amorosos e dedicados, que nunca mediram esforços para cobri-lo de mimos, mas também de uma boa educação.

Quando se mudou para Uberlândia, foi morar num bairro periférico.. a rua era íngreme, a vizinhança nada agradável e você, um menino levado, cujas cicatrizes são o registro da sua molecagem.

Já roubou muito caju na casa da vovó Maria, sem saber que esta seria, anos depois, a avó da sua esposa, bisavó dos seus filhos.... Será que estava escrito? Eu não sei, o que sei é que quando nos conhecemos acreditei que nos casaríamos, pois sem saber, eu sabia que assim era, e era antes de ser...

Vi você pela primeira vez no Colégio Bom Jesus, em 1987, numa das reuniões da igreja. Foi numa manhã de domingo. Você estava de camiseta roxa e calça jeans. Não fomos apresentados, mas nossos olhares se cruzaram e, definitivamente, achei você muito feio.

Com o passar do tempo, passei a vê-lo com olhar diferente... Jesus certa vez disse que a luz do corpo está no olhar. Quando os nossos olhos olharem com os olhos do bem, o que veremos será bom, e, assim, todo o nosso ser será luminoso.

Assim, com o passar do tempo, “enxerguei” você com os olhos do coração, olhos da alma... Não demorou muito pra começarmos o namoro.

Foi numa quarta-feira do dia 7 de abril de 1988 que tivemos o primeiro encontro, o primeiro aperto de mão, o primeiro beijo.

Meu primeiro aniversário com você como namorados foi de 15 anos. Mesmo contra minha vontade, mamãe insistiu numa festinha. Você se atrasou muito, me deixou ansiosa e ainda me presenteou com um quadro horrível de dois gatinhos enfeitados com pano de fundo com corações vermelhos.... É claro que na época achei lindo, embora tenha confessado pra mamãe tempos depois que nunca vi tanto mal gosto.

Essa foi a primeira festividade juntos: aniversário de namoro, natais, dia dos namorados e, raras vezes, você acertou nos presentes!

Lembro-me do meu primeiro almoço na casa dos seus pais. Sua mãe querendo sempre agradar, insistia na frase: “olha, não precisa ter vergonha, pode comer mais”... e isso te irritava bastante.

Com essas e outras atitudes, fui conhecendo você aos poucos.. Confesso ainda não conhecê-lo totalmente, pois sempre estou me surpreendendo com alguma palavra, algum gesto, um olhar atravessado, um sorriso disfarçado. Às vezes decepciono-me, por vezes novamente me apaixono.

Tivemos um namoro prolongado... sete anos! E nesse tempo, nos guardamos um pro outro. Você foi não só um namorado, mas um grande amigo. Enfrentou comigo meus piores dias, dentre eles, a separação dos meus pais. Você nunca mediu esforços, nunca reclamou, nunca hesitou em me levar de moto, no frio, no escuro, na solidão, para que eu pudesse dormiu na chácara com o papai, que na época já estava muito doente.

Nosso namoro também foi repleto de respeito, não só com relação à fidelidade, mas à individualidade de cada um. Nunca houve possessividade, nem de minha parte, nem da sua. Você continuou a cultivar e a fazer amigos: Túlio, Eslon, Josias, Tiléo e outros que viriam a surgir... Continuou a fazer suas viagens, seus passeios de bike...

Noivamos em novembro de 1994: apenas colocamos uma aliança sentados no sofá marrom da casa dos meus pais, que já não era mais deles... afinal, já estavam separados! Foi nessa época que você não quis mais estudar. Deixou o curso de Geografia faltando um ano para concluir. Uma grande decepção para seus pais.

No inverno de 1995, 7 de julho, finalmente nos casamos. Um momento lindo. E foi depois desse momento que continuei a conhecer você.... agora na intimidade, sem o disfarce, sem as máscaras e as maquiagens que às vezes, comodamente, o namoro proporciona. Você não tinha emprego fixo, trabalhava em Nova Ponte no Ski-Banana e eu, professora na Escola de suplência da Nestlé, onde ali, faríamos grandes amigos. Alguns deles, Arnaldo e Cláudia, meus filhinhos na fé.

Em sete anos, sete casas diferentes... Enfrentamos, juntos, momentos difíceis, mas divinamente superados... E isso talvez seja o que nos diferencia de muitos casais, pois nos amamos, e quem se ama, tem todas as chances, mesmo quando falha ou decepciona um ao outro. Mas quem não se ama, pode apenas conseguir resistência para agüentar aquilo que detesta.

Apesar dos nossos treze anos casados, vinte anos juntos, tivemos nosso primeiro filho em meio a muito desejo (mais da minha parte do que da sua), e muito choro (somente de minha parte, é claro). Mas me lembro bem, era abril, mês quente, acordei disposta a procurar um médico especialista em fertilidade. Tudo deu certo, vendemos naquela semana a nossa única moto e fiz a inseminação, no dia 9 de maio de 2002.

Quando olho o Neemias lembro-me de você irritado, com um frasquinho de sêmem na mão, pessimista com a idéia de dali sair um “filho”. Mas poderosamente ele veio. “Neemias, Consolo de Deus. Consolo para nossas vidas, estraçalhadas pelas circunstâncias adversas que outrora vivenciamos.... e que trouxe cheiro bom e alegria às nossas vidas.

Calebe, Amigo Fiel, nosso segundo filho. Um grande susto, uma inexplicável gratidão.

Nossos filhos, herança do Senhor. Duas vidas, duas pessoinhas, nossa continuidade!

Agradeço a Deus todos os dias por nossas vidas...

Que se uniram...

Se abalaram...

Se firmaram...

Agradeço por quem você é, com todos as virtudes e os defeitos... paciente, amigo, de poucos elogios, mas de grande coração. Uma das qualidades que mais admiro em você, por incrível que pareça, é seu bom humor. Você é alegre, é feliz, esnoba tranqüilidade, maturidade, apesar de nem todos te perceberem assim. Mas eu o conheço...

O que desejo a nós nos 13 anos de casados?

Muito beijo na boca...

Muitas tardes sem futebol...

Muitas noites dormindo antes das onze...

Muitas datas comemorativas sem se esquecer dos presentes...

Muitas noites se levantando pra cobrir os meninos, me deixando dormir preguiçosamente por mais alguns segundos...

Muitas viagens juntos, de preferência sem os meninos...

Muito pãozinho quente com cafezinho fresco...

Muito Som do Céu...

Muito passeio com os amigos...

Muitas noites dormidas em barraca...

Muito cinema...

Muito banho quente implorando por uma toalha limpinha...

Muitas noites abraçadinhos debaixo de um edredom quentinho...

Muita alegria e conversa fiada com os amigos, meus e teus...

Muitos anos de vida...

Muitas felicidades...

Muito prazer ao meu lado.

Que Deus nos dê ainda muita sabedoria para mantermos o que temos e que saibamos evitar tudo aquilo que venha a destruir nosso vínculo.

Te amo demais.

Com todo amor do mundo,
Sua, sempre sua,
Vanessa

A criança na contemporaneidade




Trabalhando como educadora de uma grande escola da rede municipal, atuando como Supervisora Pedagógica, cuja função específica é capacitar o docente em serviço, percebo que a crise educacional é real.
Não só por causa do salário ínfimo que os profissionais da educação recebem, não apenas pelos altos índices de evasão e repetência escolares ou pelo descompromisso da família para com a educação de seus filhos, mas também, porque não temos conseguido satisfatoriamente atender às expectativas, sonhos e motivações dos nossos alunos.

É como se nossas salas de aula estivessem povoadas de jovens seres do século XXI e nós, professores e professoras confusos ou míopes, continuando a enxergar ou a fazer de conta que lá estão os meninos e as meninas imaginados pelas teorias dos compêndios do século XVII, XVIII, XIX e parte do XX. Já é tempo de nos darmos conta de que o mundo mudou muito também dentro de nossas escolas.

Esquecemos com freqüência de que são postas em circulação imagens e significados sobre a infância e a juventude que se afastam cada vez mais das visões tradicionais com as quais nos acostumamos.

Nossas crianças e adolescentes estão cada vez mais cedo e com maior freqüência expostos à violência, às drogas, ao sexo; a infância é encurtada e a juventude cada vez mais exaltada e prolongada.
Novos padrões de comportamento são ditados: tatuagens, cabelos longos, piercings, moda funk, sexo liberado mas seguro, estilos ecléticos de música e arte, enfim, um currículo paradigmático para todas as tribos e culturas que adentrou na escola, desestruturando e desequilibrando os profissionais que não têm ainda acompanhado essas mudanças.

Que possamos, então, como educadores, produzir uma obra de orientação, de acompanhamento, de interpretação ativa de nossos conceitos, que a cada época ganham novas configurações e transformam em obsoletos os paradigmas do “ontem”.

Para tanto, uma leitura transdisciplinar da contemporaneidade que ultrapasse os muros que nos cercam no arraial escolar, torna-se pré-requisito para construir significativamente as subjetividades e as identidades das crianças e adolescentes de nossos dias.

Vanessa