As escolhas que fazemos na vida, muitas vezes, podem nos deixar confusas e angustiadas, mas, ao mesmo tempo, podem nos forçar a encontrar um equilíbrio .
Minha experiência no decorrer desses anos, trabalhando como profissional da beleza, permitiu-me vivenciar situações bem diferentes e, ao mesmo tempo, paradoxais: há mulheres que vão ao salão por extrema necessidade de " consumir a estética". É o consumismo pelo consumismo. Há as que são moderadas, que sabem da importância do " cuidado de si", mas não fazem disso o sentido da sua existência. E há as que precisam apenas se sentirem bonitas!
Percebo que, nos dias atuais, as atrações para o consumo da beleza são inúmeras e bastante " tentadoras". São cheias de promessas - e promessas muitas vezes mentirosas!
As mulheres que mais se enganam são as extremamente consumistas: fazem disto sua filosofia de vida e colocam toda a sua essência e força em coisas superficiais. Aparecer, mostrar o que tem (e o que aparentemente possui) são as únicas coisas que importam para essas mulheres. E para desculpar-se consigo mesmas diante de tamanha futilidade, fazem caridade ou dizimam na igreja.
É complicado pensar que sou uma profissional da beleza, que trabalho diretamente com a necessidade de consumo das pessoas para que se sintam bonitas, felizes e perfeitas, como se somente isso fosse proporcionar o bem estar e a felicidade. Sinto-me, por vezes, como uma " vendedora de felicidade", mas, em contra-partida, é como se, metaforicamente, eu estivesse proporcionando a essas mulheres uma " droga" - que traz um benefício imediato, mas não deixa de ser um vício. E sou eu, a profissional da beleza, a " grande traficante da estética!
Paradoxalmente, permito que minhas clientes se tornem fiéis a mim e, assim, garantam o meu sustento e os meus luxos...
Mas, eu me pergunto: até que ponto o ser humano é verdadeiro o bastante para admitir que deseja consumir! Muitos não têm esta coragem, e vão para um outro extremo: não consomem nada e se gabam da felicidade por serem simples e abrirem mão de qualquer atrativo oferecido pela estética. Sentem-se demasiadamente vaidosas porque não são consumistas.
Sei que muitas mulheres perdem o sentido de viver, por razões diferentes, mas são problemas da alma: passaram por decepções amorosas, desistiram de emagrecer, de ficarem (ou de se acharem) bonitas.. enfrentaram problemas financeiros ou profissionais e diante de tanta calamidade, desistem, inclusive, se se sentirem bonitas!
Quero voltar para o Brasil e abrir o meu salão de embelezamento. Se vai dar certo? Ah.. eu não sei. O que sei é que desejo ser a profissional que não só embeleza o corpo, mas também a alma! Quero que minhas clientes entrem no salão e desejem voltar... Não para consumir mais, mas para se apropriar dos benefícios de se " sentir" bonita. E como isto acontecerá? Colocando o sentido da vida nas coisas certas... Nós, seres humanos, somos bonitos. Apreciamos a beleza e não há nada de mal nisto. O cabelo é uma matéria muito interessante: se renova, pode ser mudado, colorado, cortado... E a pele?? Ah... a pele! Com um pouco de água e sabão está pronta para uma nova pintura...
Não somos de muitos pelos ou penas, mas fazemos nossos próprios adornos. Somos seres criativos, que de uma forma ou de outra, gostamos da arte e procuramos a estética!
É muito interessante acompanhar o sorriso de uma pessoa que há tempos se sentia feia e desiludida e teve "seu momento" de se descobrir diante de um espelho com coisas simples por nem mesmo conhecer sua beleza.
A beleza começa de dentro para fora, e é assim que um profissional da área deve levar o seu trabalho: ajudando a cliente a se conhecer e a se amar!
O conceito de "salão de beleza" precisa ser mudado: não deve ser frequentado somente em ocasiões "especiais". Ao contrário, precisa ser o espaço para o auto conhecimento. Não é neste momento do salão que a maioria das mulheres se veem? O que não pode acontecer é fazer dele um vício e o único meio para se sentirem bem e bonitas.
Meu salão ainda é imaginário, mas ele já começa a existir dentro de mim. E farei o possível para que ele se torne real!
Você vem???
Márcia Portes Fernandes