domingo, 14 de dezembro de 2008

Café com Prosa, edição de Natal
























Ontem tivemos nossa última confraria do ano no Café com Prosa.
Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres.

Agradeço a presença de todos, pelas orações compartilhadas, pelas dores e alegrias divididas...
Desejo a vocês um Ano Novo repleto de boas realizações...

Muita saúde, muita paz, muita prosperidade...

Sonhos realizados, novos amigos conquistados....











Amor em família, paz no trabalho, e muita, muita intimidade com o Altíssimo!




Retornaremos em 2009.


Boas Festas e um Feliz Ano Novo!


Com todo amor,

Vanessa




















Como está o seu jardim?

"No meio do deserto existe um oásis. Nele não há árvores frondosas, odaliscas, lagos frescos e frutas grávidas do melhor sumo. No meio do Deserto de Neguev, em Israel, existe um deserto chamado Amós Oz e nele tudo o que podemos beber são algumas talagadas de esperança, liberdade, imaginação e paz, sem nada do pieguismo que muitas vezes acompanha tais conceitos."

Foi com esses elementos que este israelense, nascido em Jerusalém há 65 anos, construiu uma das literaturas mais sensíveis de hoje sobre o "humano, demasiado humano", para emprestar a expressão de Nietzsche. E em seu livro contra o fanatismo, Amós Oz escreve:

" Creio que a essência do fanatismo reside no desejo de forçar as outras pessoas a mudarem. A inclinação comum de melhorar seu vizinho, de consertar seu cônjuge, de guiar seu filho ou de endireitar seu irmão, em vez de deixá-los ser.
O fanático é uma criatura bastante generosa. é um grande altruísta. Freqüentemente, o fanático está mais interessado em você do que nele próprio. Ele quer salvar sua alma, quer redimi-lo, quer libertá-lo do pecado, do erro, do fumo, de sua fé ou de sua falta de fé, quer melhorar seus hábitos alimentares ou curá-lo de seus hábitos de bebida ou de voto.
O fanático importa-se muito com você, ele está sempre ou se atirando no seu pescoço, porque o ama de verdade, ou apertando sua garganta, caso você prove ser irrecuperável. E, de qualquer modo, falando topograficamente, atirar-se no pescoço de alguém ou apertar sua garganta é quase o mesmo gesto. De qualquer jeito, o fanático está mais interessado em você do que nele próprio, pela razão muito simples de que ele tem um si próprio muito pequeno, ou nenhum si próprio, em absoluto". ( Amós Oz, contra o fanatismo)

E Amós Oz adverte: “Muito cuidado, o fanatismo é extremamente infeccioso, mais contagioso do que qualquer vírus. Pode-se contrair fanatismo facilmente, até mesmo ao tentar vencê-lo ou combatê-lo.

Mas, como podemos reagir ao fanatismo ou nos preservarmos dele?
Com imaginação, é a resposta de Amos Oz: «Sentido de humor, a capacidade de imaginar o outro, a capacidade de rirmos de nós próprios constitui uma cura parcial, a capacidade de nos vermos como os outros nos vêem é um outro remé­dio. A capacidade de conviver com situações cujo final está em aberto, inclusivamente de aprender a desfrutar com essas situações, de aprender a desfrutar com a diversidade, também pode ajudar.

E o que é humor para Amós Oz?

Humor é relativismo, humor é a habilidade de nos vermos como os outros nos vêem, humor é a capa­cidade de perceber que, por muito cheia de razão que uma pessoa se sinta e por mais tremendamente enganada que tenha estado, há um certo lado da vida que tem sempre a sua graça. Quanto mais ra­zão se tem, mais divertida se torna a pessoa. E para ele, “onde temos razão não podem crescer flores”.

E se assim é, todos nós temos um gene fanático dentro de nós...

E o fanatismo, a meu ver, é a tentativa humana de querer mudar o outro...

E para o fanático, conforme prescreve Amós Oz, os fins justificam os meios... Ou seja, vale qualquer coisa para “salvar” o outro daquilo que ele condena...

O fanático é um ser que, embora generoso...

Se faz divino ao assumir o papel de Deus.

Isto porque as Escrituras afirmam que “Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2:13)

Desejar o bem do outro, orar por ele, aconselhar, sofrer junto, estender a mão, não significa e nem pode significar impedi-lo de ser...

O papel de convencer ou converter pertence a Deus, da Sua Essência em nós: o Espírito Santo...

E Graças a Deus por isso.

Nele, que faz crescer flores em nós quando nos despojamos de nossas razões, de nossas certezas, de nossas convicções e apenas O deixamos ser em nós.

E eu não quero ter um si próprio pequeno, mas um Ele próprio em mim, que me guia, me convence, me leva...

Vanessa

CONTRA O FANATISMO



CONTRA O FANATISMO
AMÓS OZ


Resenha por Henrique Chagas
[ VERDES TRIGOS - http://www.verdestrigos.org/ ]


O fanatismo e a intolerância são os temas principais deste livro, resultado de três conferências realizadas por Amós Oz no Fórum de Literatura da Universidade de Tübingen, na Alemanha, onde atuou como professor convidado em 2002. O ponto de partida é, evidentemente, o mundo pós-11 de setembro, com a disseminação do terror e o acirramento dos conflitos entre árabes e israelenses.


O escritor israelense vai, no entanto, muito além do noticiário ao tentar investigar as motivações mais profundas - e universais - daqueles que matam e morrem apegados cegos por suas certezas. Pessoas que explodem clínicas de aborto nos Estados Unidos, que queimam mesquitas e sinagogas aqui na Alemanha diferem de Bin Laden apenas em escala, mas não na natureza de seus crimes, argumenta.


Em 1967, Amós Oz foi à guerra por entender que seu país, Israel, estava ameaçado. Na década seguinte já militava no PAZ AGORA, principal movimento pacifista israelense. Por isso, este texto traduz mais do que idéias: sua substância é a vivência de quem rememora a infância, quando atirava pedras nos blindados britânicos que ocupavam Jerusalém assim como os palestinos o fazem hoje contra as tropas israelenses. Com um texto claro e muitas vezes irônico, como quando fala de fanáticos mais civilizados, como antitabagistas e vegetarianos radicais, Amós Oz receita doses de bom-humor contra o fanatismo, recorrendo a escritores como Shakespeare, em cujas obras toda forma de fanatismo acaba em tragédia ou comédia.


Para o autor, quanto mais você tem razão, mais engraçado fica. O tom leve do livro, mesmo quando trata de temas polêmicos, pode ser exemplificado no conselho dado pela avó do escritor sobre as diferenças entre cristãos e judeus quanto à chegada do Messias. Se o Messias vier e disser oi, é muito bom revê-los os judeus vão ter que reconhecer seu engano. Se, de outro modo, o Messias chegar dizendo muito prazer, é um prazer conhecê-los, todo o mundo cristão terá que pedir desculpas aos judeus.


Contra o fanatismo é apresentado no entusiasmado prefácio de Nadine Gordimer, escritora sul-africana premiada com o Nobel de Literatura em 1991, como a voz da sanidade que ultrapassa a confusão, a mentira, a baboseira histérica e a retórica existente no mundo sobre os conflitos atuais. Amós Oz nasceu em Jerusalém em 1939.


Sua obra já foi traduzida para mais de 30 idiomas. É autor, dentre outros romances, de Meu Michel, A caixa preta, Pantera no porão e O mesmo mar. FRASESe o redentor viesse, ele viria contando piadas (...). No momento em que aprendermos a rir de nós estaremos imunes ao fanatismo.

domingo, 23 de novembro de 2008

O valor mítico das Escrituras...



" A visão científica aperfeiçoa a compreensão mas pode,
imperceptivelmente, subtraí-la ao homem. Uma vez separadas e purificadas do denominador comum mítico, a astrologia tornou-se a astronomia e a alquimia, química. O conhecimento delas se acelerou, mas, juntamente com o mito, o saber tornou inconsciente o aglutinante psicológico. A astrologia era um aglomerado de astronomia ingênua com psicologia; a alquimia, de química ingênua com psicologia.
Expulsando o homem real - aquele que não é só bioquímico-, as ciências individuais progridem vertiginosamente como saber específico, mas a soma dos conhecimentos que delas deriva pode revelar-se frágil porque foi perdido o critério unificador, o cógico humanista completo. Suas explicações se distanciam cada vez mais das narrações, porque a narrativa que 'convence' (do latim, convincere, conquistar, atrair, trazer para si) pressupõe um fundo mítico que lhe dê som profundo: a simples exposição dos fatos escorrega dentro de nós de maneira inerte e se fraciona em todas as direções, como fluxo de água que não encontra leito no qual correr ou sons que não encontram caixa de ressonância" (Luigi Zoja, História da Arrogância)

Apropriando-me dos dizeres de Zoja ao criticar a sociedade da técnica, que substituiu a narrativa pela informação, o mito pela ciência, evoco a simplicidade da linguagem bíblica e o seu valor poético, metafórico e, sobretudo, narrativo... pois nesse cenário da técnica, a Teologia "cientificizou" Deus...

A Revelação Divina deu lugar à Bibliologia...

O Verbo Vivo foi substituído pela Cristologia...

Ao invés do Consolador, essência de Deus em nós, prevalece a Pneumatologia...

A mensagem de esperança agora se chama Escatologia...

Fazer das Escrituras a Palavra de Deus ser viva em nós é ressignificar, cotidianamente, o já conhecido...

Nos dizeres de Zoja:

" Perceber um fundo mítico significa perceber a narrativa como já conhecida, embora sem saber nem onde nem quando: qualidade que evoca os traços significativos ao proscênio da memória e faz a criança pedir que lhe narrem de novo o já conhecido, a fim de reconhecer suas emoções e consolidar sua identidade. Tudo o que é adequadamente narrado se torna interiormente verdadeiro (...), pois "a verdade que é demonstrada pela via racional, embora adquirida de modo indiscutível no plano consciente mas sem obter ressonância interior, não oferece orientações para um sentir ancorado na personalidade, não leva a alma para casa, e é irrelevante na luta contra a angústia e para a restituição do sentido da existência" (Luigi Zoja. História da Arrogância).

E ainda:
" Se a ciência não narra mais, mas apenas informa (nos forma, nos constrói sem nos fazer participar), ela é estranha à sabedoria porque não mais produz saber e sim informações (construções)" (idem)...

A narrativa bíblica, todavia, não pode ser moldada nos formatos científicos ou técnicos...

Ela é viva...

Produz vida...

Encanta o ser...

Eleva a alma...

Alimenta o espírito...

E sua excelência está no fato de ser o próprio Deus Encarnado o Grande Narrador...
E é Ele quem restitui em nós o "sentido da existência"...

Que Deus nos livre do homem tecnológico, que substituiu o mito pela ciência, a narração pela técnica, e nos faça co-participantes de toda trama existencial por meio da Palavra Viva - narração do próprio Deus a nós.

Vanessa

O que me basta?



Historicamente, o Brasil é um país fortemente marcado pelas desigualdades sociais. Um conjunto de razões ligadas à sua formação histórica faz com que a sociedade brasileira continue caracterizada pelas disparidades sociais e pela pobreza que, ao se combinarem, alimentam o crescimento inexorável da violência urbana transformada em principal flagelo das grandes cidades.


Violência esta que cresce a cada dia, fruto também de um mundo globalizado que exclui milhões de pessoas do acesso a bens de consumo, do lazer, da educação, etc.

A flexibilização e adaptação constantes ao mundo do trabalho, a instabilidade, os empregos incertos que surgem e desaparecem de acordo com as regras do jogo que transcendem as características particulares de uma localidade, geram e intensificam a exclusão social.


Exclusão esta que produz seres humanos “supérfluos”, excedentes, redundantes do ponto de vista da produção material e intelectual - uma conseqüência da globalização e do progresso econômico que, nos dizeres de Bauman, em Vidas Desperdiçadas, “se espalha pelos mais remotos recantos de nosso planeta “abarrotado”, esmagando em seu caminho todas as formas de vida remanescentes que se apresentem como alternativas à sociedade de consumo” (2005, p;76).

Neste espaço global, “regras são estabelecidas e abandonadas no curso da ação, e o mais forte, o mais habilidoso, o mais veloz, o que tem maiores recursos e o mais inescrupuloso é que as impõem e derrubam” (idem, p.83).

Essa estrutura de dominação econômica dos países ricos sobre os mais pobres, principalmente sobre países emergentes como o Brasil, desprovido de longa tradição democrática e de instituições capazes de amortecer os choques causados pela mutação do trabalho e do indivíduo, neste limiar de século, vai “arando” um terreno de incertezas, que gera medo, angústia e insegurança.


Neste cenário, as narrativas bíblicas tendem a ficar cada vez mais distantes do imaginário coletivo...


Jesus, em Mateus 6 disse:


"Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, e contudo, o vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida? Quanto ao vestuário, por que andais ansiosos? Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam. Eu, porém, vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?Portanto, não andeis ansiosos, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? Pois os gentios procuram todas estas coisas. De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas elas. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".



Um enorme desafio para a civilização do excesso, da superfluidade, da superficialidade, do refugo e de sua remoção... para os habitantes das sociedades contemporâneas, onde nada se destina a permanecer... onde "os objetos úteis e indispensáveis de hoje são, com pouquíssimas exceções, o refugo de amanhã" (Zygmund Bauman)...

Civilizações que se divinizaram e humanizaram o Divino...
Que trocam o significado do ser pelo ter...

Sociedades do consumo e da produção de refugos...



Sociedades com "um modo de vida que está moribundo - a cultura do individualismo competitivo, o qual, em sua decadência, levou a lógica do individualismo ao extremo de uma guerra de tudo contra tudo, à busca da felicidade em um beco sem saída de uma preocupação narcisita com o eu" (Christopher Lasch)



Que o grito de Luigi Zoja nos alcance: "Eu sou quase nada: como posso querer tudo"?

Assim como Paulo, posso dizer :"Senhor, a tua graça me basta"...



Vanessa






sábado, 22 de novembro de 2008

Ubuntu pra você!


Ao estudar um pouco sobre a história da África do Sul pós-apartheid, deparei-me com o filme Em minha Terra.

Em 1996, o Governo Sul Africano estabeleceu a Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR) para investigar os abusos aos direitos humanos durante o Apartheid, sob o comando do Prêmio Nobel da Paz, Arcebispo Desmond Tutu.
A comissão era responsável por examinar os atos cometidos entre Março de 1960, a data do massacre de Sharpeville, e 10 de Maio de 1994, o dia do início de Nelson Mandela como Presidente.

Essa comissão foi uma estratégia não só política, mas e sobretudo humana, como forma de oportunizar a reconciliação entre brancos e negros por meio de confissões públicas.

Nesses encontros públicos, vítimas e algozes se enfrentavam cara-a-cara... O lema era desvelar o que, de fato, acontecera nos porões do Apartheid, tendo em vista que esse regime de segregação racial que “manchou” a história sul-africana por quase 45 anos não foi só uma violência física, mas uma violência do silêncio...

Por isso, combater essa violência era dar abertura à verdade. E a verdade vinha à tona como processo de abertura à reconciliação e ao perdão...

As pessoas que assumissem sua responsabilidade durante a audiência pública, teriam judicialmente a anistia dos seus crimes.

Nelson Mandela conseguiu assim conduzir o país em seu mandato presidencial por uma transição que poderia ter acabado em banho de sangue.

Para Mandela, o perdão era o único antídoto contra a vingança...

Vários são os autores que escreveram, ao longo da história, sobre o perdão...

Para Hannah Arendt o perdão é importante para dar continuidade à ação . O perdão é, essencialmente, recomeço...

Para Mandela, perdoar é esquecer...

Segundo Kant, para esquecer, é preciso lembrar, pois não há antagonismos entre lembrar e esquecer...

Ubuntu – que no dialeto xhosa quer dizer “todos somos interligados”, foi o grito de reconciliação entre os africanos. Significa “sou o que sou devido ao que todos nós somos”. Significa também que uma pessoa só é pessoa na relação com outra pessoa: o que você sente, nós sentimos, o que você sofre, nós sofremos...

Assim, essa pedagogia usada na África do Sul da Ubuntu – ou seja, do perdão e reunificação do país e das etnias em torno de uma só nação, fez com que os africanos percebessem que sair dos porões do apartheid e trazer à tona a verdade significava religar as pessoas por meio de confissões públicas, em que um “se enxergava” no outro por meio das atrocidades cometidas ou sofridas.

Feitas as confissões, parentes de mortos e sobreviventes deveriam seguir juntos para construir um futuro.
E fica-nos a lição:
perdoar é oferecer o recomeço...
Perdoar é se religar ao outro...
É trazer à tona a verdade...
É liberar o outro do cárcere existencial e psicológico que o colocamos...

É deixar o outro nascer de novo na nossa história, sem as memórias que fizeram dele uma desagradável lembrança...
É oferecer ao outro uma memória apagada, sem registros, sem mágoas e sem as marcas do ressentimento...

Padrão divino, não humano...
Para Jacques Derrida, perdão é “coisa dos deuses, não dos humanos”...

Mas o padrão divino está ao nosso alcance desde que assumamos nossa humanidade e reconheçamos que por nós mesmos não seremos capazes, pois “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”... Tg 1:17
Não perdoar é encarcerar a ubuntu que nos liga uns aos outros...

Mas perdoar é se transformar na semelhança de Deus...
Jesus se fez reconciliação por nós para que, por meio dela, conseguíssemos alcançar a ubuntu.
Ubuntu: humanidade para todos...
Quando reconheçamos a nossa humanidade, e a humanidade que temos a partir dos outros estamos a um passo de nos abrirmos ao perdão...

Nele, que é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda e qualquer injustiça, fazendo-se reconciliação por nós e nos conduzindo à Ubuntu - nossa com Deus e com os homens...
Ubuntu pra você!
Vanessa

segunda-feira, 17 de novembro de 2008


GRATIDÃO E QUESTÃO!


----- Original Message -----
From: GRATIDÃO E QUESTÃO!
To: contato@caiofabio.com
Sent: Sunday, September 23, 2007 20:30
Subject: Minh'alma enche-se de gratidão por você

Querido pastor:

Hoje acordei às 4:00h da manhã pra fazer mamadeira para o meu caçula de quase dois anos. É a minha rotina de todo dia.
Lembro-me sempre da sua biografia, quando disse em seu livro “Confissões do Pastor” que você “sofria de uma fome insaciável e, enquanto não era atendido nos seus clamores por comida, não deixava ninguém em paz. E a gritaria começava muito cedo, as quatro da matina, quando desferia os primeiros berros, machucando os ouvidos de todos, até dos vizinhos... e você gritava: gagau, desesperado, até lhe trazerem a papa das quatro da manhã”.

Este é o meu Calebe, e espero que não só nisto ele venha a se parecer com você!

Mas o fato é que depois da mamada, não consegui mais dormir, porque há tempos queria ter-lhe escrito, mas o tempo nunca me sobra. Tive uma forte insônia e, então, vim para o computador.

Tenho 33 anos, 23 de convertida ao Senhor Jesus, há 21 lendo seus livros. Desde os meus doze anos já lia seus livros, embora nem sempre compreendendo a riqueza do vocabulário, muitas vezes distantes da minha pequena compreensão de mundo. Lembro-me de um irmão da igreja que um dia me chamou atenção, me reprovando, dizendo que não era pra eu ler Caio Fábio, mas a Bíblia, pois Deus não estava gostando nada disso. Fiquei com pena dele: ele com 35 e eu com os meus quase 14!

Mas o fato é que sempre me identifiquei com a veracidade das suas pregações, vividas com muito amor por você. Talvez porque eu também tenha sofrido alguns de seus dramas e enxergado bem cedo a hipocrisia do mundo evangélico e me enojado de muito do que vi.

Hoje faço parte de uma comunidade cristã que busca viver a autenticidade do evangelho de Jesus.

Sou supervisora pedagógica numa escola periférica de minha cidade, e tenho visto o sofrimento que a desigualdade social tem trazido aos empobrecidos, aos marginalizados, aos excluídos de nosso país. Convivo diariamente com crianças entre 6 e 13 anos: sujas, famintas, carentes de amor, e muitas filhas e filhos de presidiários ou ex-presidiários, traficantes, prostitutas. Deus tem me enchido de amor por esses pequeninos, e tem-me dado muita autoridade para estar ali, vivendo Cristo. Estar ali tem me despertado pra muitas coisas: para a necessidade do amor incondicional, para a importância de se repensar numa nova educação que derrube os muros que os separam e os excluem socialmente e adentre na vida de cada um.

Além disso, pretendo realizar uma pesquisa de doutorado sobre a educação penitenciária no Brasil. Seu livro “Confissões do Pastor” encheu-me de desejo para o tema, embora eu saiba que você não vivenciou Bangu I para nenhum fim científico. Quero estudar para compreender melhor o ambiente no qual Deus tem me usado profundamente e intensamente. Sei da presença cada vez mais forte do tráfico na periferia, e que a realidade atual do crime organizado que se instala em regiões carentes exige de nós uma reflexão para entendermos seu significado. Se tivermos como pressuposto filosófico que crime é o que vai contra a condição humana, a sociedade já comete crime contra uma parcela da população com a injustiça social, que impõe a pobreza à maioria das pessoas. E, talvez por isso, essas comunidades carentes, já cansadas de não receberem a proteção do Estado para as suas necessidades básicas de sobrevivência, tenham apelado para o poder do tráfico, que são organizações criminosas que funcionam como defesa social e fazem coisas que o Estado não faz.

Sei do poder da mídia conservadora e sensacionalista, que trata essas questões como uma simples explosão do Mal contra a sociedade do Bem. E você, em seu livro “Confissões do Pastor”, expõe claramente o poder midiático e os estragos que ele faz.

O Brasil está se organizando para implantar em todos os presídios e penitenciárias a escola prisional de ensino fundamental e médio. Aqui em minha cidade já são duas escolas prisionais, e tenho participado dos encontros entre agentes carcerários e profissionais da educação.

Sei que além de pastor, de um homem de Deus, você é um homem que vivenciou o poder político e o que existe por detrás dos gabinetes de nossos políticos. Gostaria que comentasse sobre a educação prisional em nosso país e que tipo de educação poderia alcançar esses presos, vivendo na corda bamba entre a punição (desejada pela sociedade) e a ressocialização (que nem ele às vezes acredita que possa vir a ter).

Sua opinião me trará sossego, pois o que você fez por esses empobrecidos e excluídos com a Fábrica da Esperança, sua ousadia pela amizade com presos de alta periculosidade, sua disposição em servir e enxergar o homem por detrás do crime cometido, faz de você a referência mais importante para qualquer estudo que eu venha a realizar.

Um grande beijo pra você, no amor Daquele que nos fez livres ao nos prendermos na Sua Infinita Graça,

Vanessa
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Resposta:


Querida Vanessa: Graça e Paz!


Também perdi o sono. Já são 5 da manhã aqui em Manaus, onde estou desde o dia 6 de agosto, quando vim para assistir a cirurgia de alto risco de meu pai, e para a qual ele foi como um cordeiro mudo e grato. Perguntado sobre qual era a vontade de Deus naquilo tudo, ele disse: “Não sei. Mas vou fazer a cirurgia para fazer a vontade de Deus; pois, esta é a vontade Dele para mim. Pode ser que seja para me levar. Seja como for eu irei”.

Não pude dormir hoje. A muleta e bengala dele são minhas heranças, as únicas que quero.

Olho para ambas, a muleta e a bengala, e choro de saudades. Elas eram tão parte dele que é como se um pedaço vivo dele estivesse aqui no quarto, comigo. Sinto o cheiro dele na muleta. E dói de saudade.

Quando eu era menino ela jogava a bengala para mim, que ficava deitado no chão esperando o arremesso, e, quando ele a jogava, eu a apanhava com os pés e ficava fazendo malabarismos. Fiquei bom naquilo. Chegávamos à casa dos parentes e amigos, e eu, ainda com seis anos, me deitava no chão como um cãozinho amestrado e esperava que ele me arremessasse a bengala.

Depois de manhã volto para casa, e faço isto com dores diversas, tanto pela saudade dele, como também em razão de minha mãezinha, que ficará aqui com minhas manas, bem assistida, embora eu saiba que minha presença como filho mais velho dê a ela seguranças que ela, agora, necessite muito.

Assim, sua carta é fruto de insônia, e a minha resposta também!

Minhas opiniões sobre o sistema prisional brasileiro não são nada ortodoxas. De fato, eu vi tudo durante anos; vendo de dentro; vendo a partir do Estado (Governo e sua máquina...) e da carceragem e da Policia; e, também, vendo de “fora”, a partir dos apenados e suas famílias; e, sobretudo, a partir do ambiente social do qual tais pessoas em geral são oriundas — e o que vi me desalentou.

Trata-se de uma luta inglória, definida por meu dileto amigo Nilo Batista (para mim a pessoa que mais estuda e entende do assunto no país) como um “trabalho de enxugar gelo”.

Na realidade o maior crime é o crime oficial e fardado!

O Estado não tem interesse em investir em nada que seja eficaz e ressocializante. Eu mesmo levei inúmeras propostas que foram tidas como “não agradáveis à mídia”. Sim! Porque de fato a mídia determina quem fica e quem sai da cadeia no caso de presos pobres e famosos. Eles fazem o sujeito ficar famoso, e, depois, pela própria fama, o mantém preso.

De fato, temos o Estado desinteressado, a Policia bandida atrás das fardas, o sistema penitenciário corrompido e perverso, e a mídia hipócrita e moralista, embora, muitos dos que cubram tais matérias jamais deixem de cheirar seu pó ou fumar seu baseado.

E mais: até alguns heróis da mídia mortos pelo tráfico o foram em razão de traições, pois, compravam drogas nas bocas que cobriam jornalisticamente de modo hipócrita.

Conheço governadores que não dormem sem um baseado e senadores e deputados que não passam sem cheirar uma carreira... A Policia então nem se fala: não só muitos deles usam o que apreendem, mas, não poucos, dirigem o tráfico de modo indireto.

Assim, toda essa guerra Americana contra o tráfico [é um guerra americana mesmo...] é burra, perversa e maligna; pois, de fato, cria um esquema de corrupção infinitamente maior do que o mal que o trafico em si mesmo causa.

É como matar barata com arma química. Mata a barata e tudo mais à volta. Assim é a guerra contra o tráfico.

Portanto, sou a favor, não por escolha, mas por não conseguir aceitar tamanha burrice como inteligência, que haja políticas diferentes em relação ao tema.

Aqui no site você encontrará muitas opiniões minhas sobre o tema [veja em Busca, e escreva as palavras relacionadas e você encontrará alguns textos meus sobre o assunto].

Em minha opinião dos males sempre se deve escolher o menor, quando não se pode escolher entre o que é bom e melhor. Infelizmente lamento informar que no Brasil nossas escolhas são todas entre o inferno e o purgatório.

Para mim se o Brasil desejasse fazer algo eficaz sobre a questão, deveria de vez romper com o modelo Americano, burro e inócuo, e adotar políticas do tipo europeu.

Veja se na Europa se tem o tipo de perfil de desgraça relacionada às drogas que se vê nos Estados Unidos e de lá sendo expandido para a desgraçada América Latina?

O fato é que essa repressão aramada e de guerra está transformando nossa terra num Iraque de política americana.

Pergunte aos governadores de eles crêem de fato que a repressão dará jeito nas coisas. Pergunte ao Lula. Sim! A qualquer deles. Mas faça-o em particular. Ora, o que você verá é que eles não crêem nos resultados. Sei por que me disseram, muitos deles, e mais de uma vez. Dói, todavia, ver que se uma câmera for ligada diante deles, todos mudam de idéia na hora [isto é: para consumo político e de imagem].

Mas, se é assim, então por que implementam a política do Enxuga Gelo? Ora, é que eles governam para a mídia e para a classe média desejosa e necessitada de gadarenizar o tráfico a fim de excluir-se das causas do problema.

Isto sem falar que os pobres não têm recursos para manter o tráfico, razão pela qual a classe média é a grande consumidora, ao mesmo tempo em hipocritamente quer cheirar sem que feda.

Eles são como aqueles que comem o veneno e depois culpam aqueles que conseguiram para eles.

Minha sugestão, portanto, é que você estude as políticas européias de combate às drogas, pois, é o modelo menos danoso que se tem acerca de tal enfretamento no planeta.

Quanto ao Brasil, sinceramente, como posso ter esperança para a guerra das ruas se não se consegue nem mesmo tirar do Senado um senador corrupto?

Num país que rouba e rouba como este; e que rouba nos mais altos escalões — que pobre coitado terá motivação para evitar o ganho “fácil” [ironia] das drogas se a droga da maldade dilapida os recursos que seriam investidos nas populações marginalizadas?

Até mesmo na Fábrica de Esperança nós tínhamos que abrigar filhos de traficantes ou aprisionados, integrando-os com nomes outros, pois, se a mídia soubesse que os filhos do Escadinha estudavam conosco, logo fariam um estardalhaço...

A coisa toda é mentirosa e hipócrita!

Creio, todavia, que em casos menores e em instituições de cidades menores, ainda é possível melhorar topicamente algumas coisas. Porém, no que tange às políticas de repressão, saiba: elas são feitas sem que se acredite na eficácia delas; nem pelos que as implementam como conceitos, e, menos ainda, pelos que as praticam como ações policiais.

E a coisa vai longe...

É tanta coisa que nem dá pra contar aqui e agora, mas basta dizer que não é de hoje que há juízes e desembargadores envolvidos no esquema. Eu mesmo, na década de 90, vi como isto acontecia. E vi que os próprios políticos contratam tiroteios em época de eleição, gastando milhões, a fim de que bandidos contratados façam um estardalhaço na cidade a fim de prejudicar seja qual for o governo em exercício.

Bangu I nasceu assim...

Pagaram o Gordo, o Escadinha e o Japonês para fugirem da Ilha Grande a fim de aterrorizar a população da Zona Sul com o famoso duelo de São Pedro, que é basicamente o seguinte: paga-se para que os bandidos passem o dia e a noite atirando para o alto a fim de incomodar e apavorar aqueles que ditam as opiniões; e, assim, a mídia barbariza o governo em exercício, fazendo com que um outro tenha assim a chance de praticar seu banditismo oficial.

O Escadinha não foi resgatado pelo Gordo num helicóptero que entrou no pátio do antigo presídio da Ilha Grande levando o “bandido”. Não! O Gordo me contou que o Escadinha já estava fora, na praia; e que ambos ainda tomaram um banho de mar antes do helicóptero partir... E o valor? Seis milhões de dólares pagos por um oficial da Policia, negro e conhecido, e que foi morto como queima de arquivo logo depois. Os envolvidos? Ah! Deus sabe! E eu gostaria de não ter sabido...

Então, numa traição, os mesmos que os contrataram construíram Bangu I e os puseram lá depois de ganha a batalha política.

É um nojo só!

Bem, amanhece e tenho que parar...

Mas saiba: foi um prazer receber a sua carta!

Em nome de Jesus desejo sobre você, seu esposo e seu Calebe todas as bênçãos da Graça!

Um carinhoso abraço!


Nele, que morreu entre os bandidos menos ofensivos, pois, os piores davam as ordens oficiais, e, entre tais..., ninguém se arrependeu, mas, ao lado Dele, como outro condenado, um enxergou,


Caio

24/09/07
Manaus
AM




domingo, 19 de outubro de 2008

O eu-profundo que em mim habita


O que, de fato, nos torna seres humanos?

Tal pergunta parece, a priori, fácil de ser respondida... todavia, a dimensão do “eu” carrega alguns elementos decisivos que nos constituem como um ser que se diferencia de todos os demais...

Somos seres que choram, que se alegram, que projetam, que pensam, que escravizam, que libertam, que buscam, que se perdem, que amam, que sonham... enfim... seres que produzem os mais diferentes tipos de sentimentos e afetividades...

Somos seres constituídos por uma hereditariedade orgânica (genética), impressa em nossa existência no momento da concepção...

Somos também produto do meio, seja familiar ou social, que também “deixa marcas” em nossa existência por meio do “caldo residual” familiar de todos os que nos precederam ou através das relações entre sujeitos com os quais negociamos nossas ações...

Seres que sofrem influência do poder econômico, o qual determina o modo como encaramos o significado do ser ou não ser... que quase sempre nos inclina pela troca do ser pelo ter...

Somos seres políticos, que vivem num espaço-tempo que nos influencia na construção de uma cosmo-visão, a qual determinará nossas ações frente às questões de governamentabilidade...

Seres com uma arquitetura psicológica e condicionamentos cerebrais complexos, além de possuirmos um conjunto de acidentes afetivos que nos “esbarrarão” durante todo o curso de nossa existência com marcas de amor, de ódio, de fidelidade, de perdão...

Seres que sofrem de uma influência espiritual, que agem no campo da invisibilidade, sempre usando a produção dos humanos...

O conjunto de todas essas dimensões nos constitui como seres humanos... mas o que nos torna diferentes é a eternidade "plantada" no âmago do nosso coração e que nos faz dependentes e necessitados de um relacionamento com Alguém que seja maior do que nós mesmos...
Assim... que ao lançarmos nossos olhares para o eu-profundo que habita em nós, possamos nos entender à luz de cada uma dessas dimensões: todas elas presentes do Altíssimo para vermos e avaliarmos conscientemente o que desejamos abraçar como nosso e o que sabemos que, embora sendo nosso, não faz bem à vida!

“Sonda-me ó Deus, e conhece o meu coração, vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”. Sl 139

Que Deus perscrute os porões do nosso ser, no ambiente do mistério absoluto de quem, de fato, somos... e altere, desde as raízes , tudo aquilo que não procede Dele, que nos deixa perplexos, assustados e abatidos e nos distancia da Sua intimidade.
Vanessa

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mentira:um vício na falsificação da realidade


Gente que se habituou a resolver as coisas com uma “estorinha” sofre de um mal muito sério.

No início – e por vezes, durante toda a vida – a pessoa vai “se dando bem”. Então, começa a achar que aquele é um direito natural, que faz parte da sobrevivência como se fosse uma arma de defesa.

E aí... o convívio da falsificação da realidade vai se transformando num vício sem que se dê conta disso com o passar do tempo...

E o indivíduo segue incorporando ao currículo de sua existência as subjetividades que só aconteceram como “maquinação mental”...

A mentira, então, passa a ser:

Desculpa para facilitar a vida...

Fruto de um coração inseguro...

Falsificação corriqueira da realidade...

Necessidade de aceitação...

E a única realidade que o mentiroso passa a aceitar é aquela que ele mesmo criou como cenário para a sua própria máscara existencial.

Já a verdade...

Ah, essa liberta...

Esgarça o ser...

Mas só buscam a Verdade aqueles que não temem o existir...

Que não temem a liberdade...
Ainda que seja a liberdade de errar a fim de conhecer a verdade como dor, para depois conhecê-la como paz.

E esse é o preço que os mentirosos não querem pagar.

Gente presa ao medo de existir jamais conhecerá e se habituará à verdade, visto que a verdade acontece como risco, como vertigem da liberdade e como conseqüência da pessoa se haver entregue à vida, à existência, sem medo de ser e muito menos de se assustar com a própria face desmascarada pela luz do que é.

Feliz é todo aquele que conhecer e praticar a Verdade.

Vanessa

domingo, 14 de setembro de 2008

Eu, poeta...


Caminhando por saberes tão distintos dos habituais, “esbarrei-me” na filosofia da Composição, de Edgar Allan-Poe. Um poeta, que no início do século XX passa a escrever contos e, mais do que isso, tem uma preocupação de mostrar o que se passa “nos bastidores” de quem escreve...

Isso porque sempre que lemos um conto, ou uma poesia, imaginamos que o escritor simplesmente se debruça em sua escrivaninha e, com muita inspiração, escreve...

Allan-Poe, ao contrário, preocupa-se com o modus operandi, ou seja, muito além de inspiração, o poeta precisa de transpiração...

É extremamente trabalhoso escrever poemas, assim como produzir um filme, conforme explicitado por Sergei Eisenstein em “O sentido do filme”: ... a escolha das cores, da música, do enredo, do clímax, do efeito... e, no caso do poema, as palavras precisam ser metricamente colocadas em ordem, atentar-se para a extensão e a originalidade do que se escreve... e com um único desfecho: provocar os sentimentos e emoções ...

Eisenstein um cineasta, Allan Poe um poeta... os dois em busca da harmonia para fazer o desfecho de suas narrativas: poéticas ou cinematográficas.

E que grande lição eles nos ensinam...

Tanto um quanto o outro não são vaidosos, mas aceitam o desafio de se despojar da imagem de que por meio da inspiração apenas produz-se algo...

Ao contrário, escrever é um exercício de refazimento constante, de planejamento minuciososo... de escrever/apagar... até atingir o objetivo maior, como disse: captar emoções....

O interessante desta “desmontagem do poema”, é que Allan Poe demonstra que ele é o primeiro leitor de si mesmo: o constante refazimento permite a releitura... e essa releitura o permite entender os efeitos da escrita, primeiramente, para ele mesmo...

O poema só é poema quando emociona, quando vai além do coração, além da inteligência... e consegue tocar e elevar a alma...

Sejamos poetas...

Despojados de vaidade, leitores de nós mesmos, fazendo da nossa existência um grande enredo... sabendo escolher, em Deus, a harmonia entre a música, as cores, clímax, a fim de atingir o melhor dos efeitos, ou seja, a elevação da alma...

Em Cristo temos a compreensão do modus operandi e do desfecho de toda a trama existencial...

Nele, o Maior Poeta, que faz da nossa vida a melhor das poesias...
Vanessa

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

As Escrituras e eu...


A Escritura tem todo tipo de linguagem: começa com a mítica, entra na semi-histórica, adentra a história, se utiliza da simbólica, expressa a alegórica e metafórica e também a literal. E cada texto tem que ser lido e discernido conforme a sua linguagem...
Mas a Escritura não inicia dizendo que linguagem está usando, apenas porque é óbvio quando uma certa linguagem está sendo praticada... (Caio Fábio)

E todos os homens escolhidos por Deus para “derramarem” em forma de símbolos lingüísticos a Sua Palavra não o fizeram por meio de blocos sistematizados de doutrinas, mas apenas como compreensão de quem Deus é e as implicações de se crer nisso, de modo que o que escreviam apenas transbordava o que neles estavam como conteúdo imutável....

E tudo que escreviam estavam neles como vida e pensar!
E assim deve ser também em mim...

Assim posto, as Escrituras precisam entrar em mim e ser entendidas por meio do Espírito que arraiga a alma e a mente como entendimento em Deus...

E ao arraigar, traz implicações para a vida...

E muda a vida...

E transforma o ser...

E inunda-nos de paz, de amor, de graça infinita...

E vai além de demonstração de conhecimento acumulado...

E nos faz viver a vida em contentamento e amor...
E vai nos transformando em seres-sal-e-luz e nos fazendo mais parecidos com Jesus...
Mas a Palavra revelada e transformada em Escrituras não é "escrita" em pedras e nem é uma lista de deveres. Ao contrário, é um entendimento, uma compreensão, uma decisão pelo que é bom, justo e verdadeiro.
Bem-aventurado é todo aquele que as praticar.
Vanessa

domingo, 27 de julho de 2008

Estados europeus desalmados, por Leonardo Boff


A “Diretiva do Retorno” também chamada de “Diretiva da Deportação ou da Vergonha”da Comunidade Européia acerca dos extracomunitários ilegais desmascara uma faceta desumana que a cultura européia sempre teve e que dificilmente consegue disfarçar. É uma cultura identitária. Possui dificuldade imensa de conviver com o diferente. Ou o agregou, ou o submeteu ou o destruiu. Invadiu praticamente todo o mundo conhecido, subjugando e matando com a cruz e a espada.

Foi ela que, nos primórdios da modernidade, provocou o maior genocídio da história humana, segundo o historiador Oswald Splengler em seu O declínio do Ocidente. Onde na América Latina havia 23 indígenas, diz-nos o antropólogo Darcy Ribeiro, após um século, restou apenas um. Depois dominou as populações restantes, explorou todos os recursos naturais possíveis que serviram de base para a industrialização e seu enriquecimento que são suas injustas vantagem até os dias de hoje. Atrás de seus feitos comerciais e técnicos há rios de sangue, de suor e de lágrimas. É uma cultura montada sobre o poder-dominação.

Agora, passando por cima de vários artigos da Declaração dos Direitos Humanos de 1948 (quando foi que a respeitaram?) maltratam imigrantes, consideram-nos criminosos a serem encarcerados, mesmo menores, sem precisar de mandato judicial, apenas mediante um procedimento administrativo. Prevêem-se campos de concentração para eles. Esses imigrantes escondem tragédias em suas vidas. Estão lá porque querem sobreviver e ajudar a suas famílias que deixaram em seus países.

Vejam a contradição: no século XIX os sobrantes do processo de industrialização europeu, aqueles que poderiam desestabilizar o capitalismo selvagem nascente, previsto por Marx, foram destinados à exportação. Não veio qualquer tipo de gente. Tinham primazia os empobrecidos e os doentes, como meus avós italianos. Todos de sua leva eram acometidos de tracoma, na época de difícil cura. Eu mesmo quando criança passei por esta doença bem como todos de nossa região no interior de Santa Catarina, onde se situa hoje a Sadia e a Perdigão, conhecidas por seus bons produtos.

No Brasil foram acolhidos com generosidade. Ganharam terras, ajudaram a construir esta nação e agora, com a riqueza natural com que Deus nos galardoou, podemos ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro. As políticas da Comunidade européia de hoje, não mostram nenhuma reciprocidade. Com ações articuladas, se revelam cruéis e sem piedade. Relata-nos o príncipe de nossos jornalistas, Mauro Santayana, no JB de 22/06, que nos anos 80 economistas e sociólogos norte-americanos e europeus sob o patrocínio de banqueiros concluíram que era necessário afastar do consumo 4/5 da humanidade, a fim de garantir a gestão do planeta e manter os privilégios dos 20% de ricos. Os demais deveriam ser marginalizados até a sua extinção.

Parece que o genocídio está inscrito no código genético deste tipo de gente que está por detrás de quase todas as guerras dos últimos séculos. A eles que gostam de cultura como pura ilustração lhes recordo o que Immanuel Kant(+1804) diz em sua A paz perpétua (1795). A primeira virtude de uma república mundial é a “hospitalidade geral”, como direito e dever de todos. Todos estão sobre o planeta Terra, diz ele, e têm o direito de visitar suas regiões e seus povos, pois a Terra pertence comunitariamente a todos.

Só espíritos anti-cultura ocidental como Francisco de Assis, João XXIII. Luther King e Madre Tereza podem oferecer um paradigma que resgate e salve estes Governos da maldição da vida e da ira divina que pairam sobre ele.

Leonardo Boff

domingo, 13 de julho de 2008

Um brinde à felicidade...




Às onze e meia do dia 3 de junho de 1971 você nasceu, de parto normal, como orgulhosamente seus pais contam. Um menino forte, que teve uma mãe-preta, mãe de leite, como os antigos diziam.

Seu pai, um militar carioca recém-chegado ao quartel de Uberaba. Sua mãe, recém-formada no magistério, embora nunca viesse a exercer a profissão. Destinos cruzados que me trouxem você.

Nascido em Uberaba, passou lá a primeira infância, junto a seu único irmão. Você com quase cinco, ele com quase três.

Sei que tiveram uma infância feliz, pais amorosos e dedicados, que nunca mediram esforços para cobri-lo de mimos, mas também de uma boa educação.

Quando se mudou para Uberlândia, foi morar num bairro periférico.. a rua era íngreme, a vizinhança nada agradável e você, um menino levado, cujas cicatrizes são o registro da sua molecagem.

Já roubou muito caju na casa da vovó Maria, sem saber que esta seria, anos depois, a avó da sua esposa, bisavó dos seus filhos.... Será que estava escrito? Eu não sei, o que sei é que quando nos conhecemos acreditei que nos casaríamos, pois sem saber, eu sabia que assim era, e era antes de ser...

Vi você pela primeira vez no Colégio Bom Jesus, em 1987, numa das reuniões da igreja. Foi numa manhã de domingo. Você estava de camiseta roxa e calça jeans. Não fomos apresentados, mas nossos olhares se cruzaram e, definitivamente, achei você muito feio.

Com o passar do tempo, passei a vê-lo com olhar diferente... Jesus certa vez disse que a luz do corpo está no olhar. Quando os nossos olhos olharem com os olhos do bem, o que veremos será bom, e, assim, todo o nosso ser será luminoso.

Assim, com o passar do tempo, “enxerguei” você com os olhos do coração, olhos da alma... Não demorou muito pra começarmos o namoro.

Foi numa quarta-feira do dia 7 de abril de 1988 que tivemos o primeiro encontro, o primeiro aperto de mão, o primeiro beijo.

Meu primeiro aniversário com você como namorados foi de 15 anos. Mesmo contra minha vontade, mamãe insistiu numa festinha. Você se atrasou muito, me deixou ansiosa e ainda me presenteou com um quadro horrível de dois gatinhos enfeitados com pano de fundo com corações vermelhos.... É claro que na época achei lindo, embora tenha confessado pra mamãe tempos depois que nunca vi tanto mal gosto.

Essa foi a primeira festividade juntos: aniversário de namoro, natais, dia dos namorados e, raras vezes, você acertou nos presentes!

Lembro-me do meu primeiro almoço na casa dos seus pais. Sua mãe querendo sempre agradar, insistia na frase: “olha, não precisa ter vergonha, pode comer mais”... e isso te irritava bastante.

Com essas e outras atitudes, fui conhecendo você aos poucos.. Confesso ainda não conhecê-lo totalmente, pois sempre estou me surpreendendo com alguma palavra, algum gesto, um olhar atravessado, um sorriso disfarçado. Às vezes decepciono-me, por vezes novamente me apaixono.

Tivemos um namoro prolongado... sete anos! E nesse tempo, nos guardamos um pro outro. Você foi não só um namorado, mas um grande amigo. Enfrentou comigo meus piores dias, dentre eles, a separação dos meus pais. Você nunca mediu esforços, nunca reclamou, nunca hesitou em me levar de moto, no frio, no escuro, na solidão, para que eu pudesse dormiu na chácara com o papai, que na época já estava muito doente.

Nosso namoro também foi repleto de respeito, não só com relação à fidelidade, mas à individualidade de cada um. Nunca houve possessividade, nem de minha parte, nem da sua. Você continuou a cultivar e a fazer amigos: Túlio, Eslon, Josias, Tiléo e outros que viriam a surgir... Continuou a fazer suas viagens, seus passeios de bike...

Noivamos em novembro de 1994: apenas colocamos uma aliança sentados no sofá marrom da casa dos meus pais, que já não era mais deles... afinal, já estavam separados! Foi nessa época que você não quis mais estudar. Deixou o curso de Geografia faltando um ano para concluir. Uma grande decepção para seus pais.

No inverno de 1995, 7 de julho, finalmente nos casamos. Um momento lindo. E foi depois desse momento que continuei a conhecer você.... agora na intimidade, sem o disfarce, sem as máscaras e as maquiagens que às vezes, comodamente, o namoro proporciona. Você não tinha emprego fixo, trabalhava em Nova Ponte no Ski-Banana e eu, professora na Escola de suplência da Nestlé, onde ali, faríamos grandes amigos. Alguns deles, Arnaldo e Cláudia, meus filhinhos na fé.

Em sete anos, sete casas diferentes... Enfrentamos, juntos, momentos difíceis, mas divinamente superados... E isso talvez seja o que nos diferencia de muitos casais, pois nos amamos, e quem se ama, tem todas as chances, mesmo quando falha ou decepciona um ao outro. Mas quem não se ama, pode apenas conseguir resistência para agüentar aquilo que detesta.

Apesar dos nossos treze anos casados, vinte anos juntos, tivemos nosso primeiro filho em meio a muito desejo (mais da minha parte do que da sua), e muito choro (somente de minha parte, é claro). Mas me lembro bem, era abril, mês quente, acordei disposta a procurar um médico especialista em fertilidade. Tudo deu certo, vendemos naquela semana a nossa única moto e fiz a inseminação, no dia 9 de maio de 2002.

Quando olho o Neemias lembro-me de você irritado, com um frasquinho de sêmem na mão, pessimista com a idéia de dali sair um “filho”. Mas poderosamente ele veio. “Neemias, Consolo de Deus. Consolo para nossas vidas, estraçalhadas pelas circunstâncias adversas que outrora vivenciamos.... e que trouxe cheiro bom e alegria às nossas vidas.

Calebe, Amigo Fiel, nosso segundo filho. Um grande susto, uma inexplicável gratidão.

Nossos filhos, herança do Senhor. Duas vidas, duas pessoinhas, nossa continuidade!

Agradeço a Deus todos os dias por nossas vidas...

Que se uniram...

Se abalaram...

Se firmaram...

Agradeço por quem você é, com todos as virtudes e os defeitos... paciente, amigo, de poucos elogios, mas de grande coração. Uma das qualidades que mais admiro em você, por incrível que pareça, é seu bom humor. Você é alegre, é feliz, esnoba tranqüilidade, maturidade, apesar de nem todos te perceberem assim. Mas eu o conheço...

O que desejo a nós nos 13 anos de casados?

Muito beijo na boca...

Muitas tardes sem futebol...

Muitas noites dormindo antes das onze...

Muitas datas comemorativas sem se esquecer dos presentes...

Muitas noites se levantando pra cobrir os meninos, me deixando dormir preguiçosamente por mais alguns segundos...

Muitas viagens juntos, de preferência sem os meninos...

Muito pãozinho quente com cafezinho fresco...

Muito Som do Céu...

Muito passeio com os amigos...

Muitas noites dormidas em barraca...

Muito cinema...

Muito banho quente implorando por uma toalha limpinha...

Muitas noites abraçadinhos debaixo de um edredom quentinho...

Muita alegria e conversa fiada com os amigos, meus e teus...

Muitos anos de vida...

Muitas felicidades...

Muito prazer ao meu lado.

Que Deus nos dê ainda muita sabedoria para mantermos o que temos e que saibamos evitar tudo aquilo que venha a destruir nosso vínculo.

Te amo demais.

Com todo amor do mundo,
Sua, sempre sua,
Vanessa

A criança na contemporaneidade




Trabalhando como educadora de uma grande escola da rede municipal, atuando como Supervisora Pedagógica, cuja função específica é capacitar o docente em serviço, percebo que a crise educacional é real.
Não só por causa do salário ínfimo que os profissionais da educação recebem, não apenas pelos altos índices de evasão e repetência escolares ou pelo descompromisso da família para com a educação de seus filhos, mas também, porque não temos conseguido satisfatoriamente atender às expectativas, sonhos e motivações dos nossos alunos.

É como se nossas salas de aula estivessem povoadas de jovens seres do século XXI e nós, professores e professoras confusos ou míopes, continuando a enxergar ou a fazer de conta que lá estão os meninos e as meninas imaginados pelas teorias dos compêndios do século XVII, XVIII, XIX e parte do XX. Já é tempo de nos darmos conta de que o mundo mudou muito também dentro de nossas escolas.

Esquecemos com freqüência de que são postas em circulação imagens e significados sobre a infância e a juventude que se afastam cada vez mais das visões tradicionais com as quais nos acostumamos.

Nossas crianças e adolescentes estão cada vez mais cedo e com maior freqüência expostos à violência, às drogas, ao sexo; a infância é encurtada e a juventude cada vez mais exaltada e prolongada.
Novos padrões de comportamento são ditados: tatuagens, cabelos longos, piercings, moda funk, sexo liberado mas seguro, estilos ecléticos de música e arte, enfim, um currículo paradigmático para todas as tribos e culturas que adentrou na escola, desestruturando e desequilibrando os profissionais que não têm ainda acompanhado essas mudanças.

Que possamos, então, como educadores, produzir uma obra de orientação, de acompanhamento, de interpretação ativa de nossos conceitos, que a cada época ganham novas configurações e transformam em obsoletos os paradigmas do “ontem”.

Para tanto, uma leitura transdisciplinar da contemporaneidade que ultrapasse os muros que nos cercam no arraial escolar, torna-se pré-requisito para construir significativamente as subjetividades e as identidades das crianças e adolescentes de nossos dias.

Vanessa


quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mulher Águia...


Mãe,

Quero chegar aos sessenta e cinco com a sua jovialidade...

Jovialidade no corpo, mas principalmente na alma, pois mesmo que o corpo não esteja tão bom, o resto, o todo, fica cada vez melhor.
Mulher águia, cujo vigor e renovação das forças estão em Deus...

Mulher águia, cujo renovar, subir, voar, correr e caminhar é fruto apenas do poder que espera na fraqueza...

Mulher águia...
Que precisa sempre escolher entre o "deixar-se" morrer ou enfrentar um novo e dolorido processo de renovação...
Mulher águia...
Que se resguarda, recomeça e se desprende de lembranças amargas...
Esta é a razão pela qual os que esperam no Senhor renovam suas forças, e sobem com asas, como águias, e correm e não se cansam, caminham e não se fadigam...
E nessa espera, se renova, sobe, voa, corre e anda...
Mulher águia, que sabe que não depende de quem quer e nem de quem corre, mas de usar Deus de sua misericórdia...

E eu, bem mais jovem, bem mais cansada... bem mais moça e bem mais exausta...

Assim,o meu desejo é que eu fique cada dia mais cheia de esperança, de sorte que a minha velhice também venha a se renovar como águia...
Amo você.
Com todo amor do mundo,
Vanessa


quinta-feira, 26 de junho de 2008

Viva Sâo João


Jesus se referiu a João Batista como o maior dentre os nascidos de mulher. No entanto, esse maior dentre os homens não era “digno de desamarrar as sandálias de Seus pés.” Ele dizia: importa que Ele cresça, e eu diminua.

João, o homem que Jesus chamou de ‘maior’, nunca usou títulos e nem referência alguma de autoridade: Você é Elias? Não! É o profeta? Não! Ele era a Voz! Mais tarde, Jesus diria: O maior entre vós seja o que mais serve!

Ele era um homem sem barganhas a fazer com nada e com ninguém. Sua política era não ter qualquer política nas relações humanas que estabelecia, enquanto “preparava o caminho do Senhor”.

Nem o Rei Herodes escapou de ver sua vida íntima cheia de mentira e traição exposta à luz do dia por João Batista. Enfim, João não era polido quando o assunto era cada um viver o arrependimento que dizia ter experimentado.

Aos militares, sua mensagem era para que não praticassem extorsão, subornos e ameaças...
Aos cobradores de impostos, para que não superfaturassem com a arrecadação do contribuinte...
Aos líderes religiosos, para que dessem frutos dignos de arrependimento, além, é claro, de chamá-los de “raça de víboras”...

Arrependam-se! Arrependam-se! E vivam como arrependidos...

Essa era a Voz de João Batista...

Uma Voz que não se faz mais ouvir...

A essência da sua pregação deu lugar a festividades pagãs que em nada carregam a mensagem original: o compromisso exclusivo com a Mensagem do Reino de Deus, que não está aqui ou ali, mas dentro de nós.

Ao contrário do orgulho auto-suficiente da religião institucionalizada e cheia de si mesmo, a mensagem de João no deserto era a GRAÇA, a dependência da salvação em Jesus, que batiza com o Espírito Santo quem não merece nada de Deus.

Assim, o que João anuncia é que não há mérito nenhum em ser quem somos se nossas vidas não se mostrarem transformadas íntima e pessoalmente.

Sem arrependimento sua religião é NADA para Deus! Mudem!!!

Essa era a voz de João Batista... A voz que clama no deserto...


A Voz que ainda ecoa no meio do deserto...

João foi também o primeiro a conhecer o amor de Jesus como Mistério, e como uma realidade que pode ser experimentada como absurdo e tragédia.

Foi o primeiro a dizer tudo acerca de Jesus como verdade.

Foi o primeiro mártir da esperança. João morreu por um capricho. E Jesus não fez nada para impedir. Assim, desde o início que se fica sabendo que muitos aos quais Ele ama, sofrem e morrem mortes banais e idiotas.

E foi assim que João ganhou, sem o saber, seu próprio lugar entre os maiores do Reino.

Vanessa

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Coríntios 13



CORÍNTIOS 13


Quisera eu falar as línguas das nações

E aos povos emanar em puras intenções

Deve ser doce, enfim, a língua angelical

Clamar com os serafins o Nome sem igual


E se eu profetizar, mistérios desvendar

Saber qual a razão de estrelas na amplidão

Se eu não tiver amor, de nada valerá

Eu viverei só pra saber o que é viver em vão


Quisera fé maior pra que eu vencesse o mal

E ao Pai servir melhor, pureza mais real

Oferecer os bens a quem mais precisar

Ir longe, muito além, a vida entregar

E eu que nada sou, não tenho muito a dar

Mas se eu tiver amor na vida que eu levar

Eu saberei , então, que o pouco que eu fiz

Não foi em vão, valeu a pena sentir meu Deus feliz!

(tp://steniomarcius.blogspot.com)


Por isso, esposo querido...

Se tivermos amor na vida que levarmos...

Saberemos que valeu a pena sentir o nosso Deus feliz!
Amo muito você...
Vanessa

terça-feira, 10 de junho de 2008

Quanto custa a bênção?



Samaria nos dias atuais

Os oito primeiros capítulos do livro de Atos têm em Pedro e João as personagens centrais na anunciação das Boas Novas.

Uma mistura de sinais e prodígios, milagres, choro e perseguição, alegria e contentamente faziam parte do dia-a-dia dos apóstolos e aonde quer que fossem ou estivessem, agiam de modo desinstalado, indo e pregando, assim como ensinando e batizando aos que cressem...

Em meio a oração pelos doentes, libertação dos oprimidos, descida do Espírito Santo

acompanhada de sinais sensoriais como o falar em outras línguas, um certo homem chamado Simão estava ali...

Era um homem respeitado...

Uma grande figura, mágico por profissão...

Era conhecido como o Grande Poder...

Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, o historiador de Paulo e grande amigo dele, este homem ouviu, viu, creu, foi batizado e passou a seguir Pedro, João e Filipe bem de perto.

Assim... Simão, vendo a beleza e a sinceridade de tudo, percebeu que o que via, além de fazer "bem à alma e ao espírito", também poderia se transformar num grande negócio...

E a ganância de Simão venceu sua breve alegria...

E Simão oferece dinheiro a Pedro para que ele também recebesse o poder de conceder aos homens o Espírito de Deus pela imposição de mãos, assim como faziam os apóstolos...

Simão, um mágico, sabia distinguir o verdadeiro e o falso no mundo sobrenatural...

Simão, grande mestre da ilusão, viu no poder do Espírito Santo uma grande chance de renovar seu repertório profissional: " Concede-me também a mim este poder - pede ele a Pedro, oferecendo-lhe dinheiro como pagamento pela compra da bênção"...

E o dinheiro vira moeda de troca para comprar o que lhe fora concedido gratuitamente...

Mas Pedro repreende a Simão e não permite se vender à barganha proposta...

Pedro enxerga angústia de morte na alma de Simão: "sua alma é fel de amargura e laço de iniqüidade"...

Simão foi batizado, amava o sobrenatural, mas era viciado na ilusão e na manipulação...

Um fenômeno que ainda se repete nos dias atuais...

Manipulação do sobrenatural...

Dinheiro em troca da bênção...

Ganância pelo poder usando o nome de Deus...

Arrepende-te... é o clamor de Pedro a Simão!

Que Deus salve Pedro de Simão...

Que Deus tenha misericórdia do Pedro que atendeu à barganha de Simão...

Que Deus livre Pedro de virar Simão...

Que Deus libere perdão ao Pedro que virou Simão...

Que Deus nos livre de virar Simão...

Nele, que ama tanto a Pedro quanto a Simão, mas que tem em Pedro o protótipo Daquele que não deseja que viremos Simão...

Vanessa

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O valor da Verdade: seja para a vida, seja para a morte


A beleza do livro de Atos está no fato de que os episódios narrados por Lucas de tudo o que viu e ouviu acerca do ministério dos apóstolos são fruto das origens da Igreja Primitiva...

Por isso, ler Atos significa rememorar o surgimento, a origem, a essência dos atos dos “primeiros cristinhos”, assim como eram chamados, num sentido pejorativo, os que seguiam os ensinamentos de Cristo...

Em Atos 5: 1-11 há uma narrativa muito interessante sobre um casal que fazia parte desta igreja em Jerusalém mas que, em dado momento, agiram contrariamente ao que Cristo havia ensinado...

Uma das características da Igreja Primitiva era que ninguém que fizesse parte dela passava necessidades, pois como relata o livro bíblico, “nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade” At 4:36-37)

Ananias e Safira haviam vendido um campo, e desejavam faturar duplamente: com a venda em si; e com a imagem da venda, significando 100% de generosidade aos sentidos dos outros, porém, num caixa dois tentavam esconder tal coisa do Espírito Santo. Assim, retiveram o que desejaram [uma parte]; e, do restante, fizeram uma oferta aos pés dos apóstolos, dizendo:

Vendemos um campo, e aqui está a totalidade”.

Ananias foi o ofertante oficial. Safira vem apenas três horas depois, e sem saber que seu marido caíra morto quando sua mentira fora revelada pelo Espírito Santo a Pedro, sendo indagada, contou a mesma lorota de crente ateu. Então, informada do que acontecera ao marido antes de sua chegada, caiu morta também.

Ananias e Safira tiveram a Graça de morrer em razão da mentira. Eram amados. Não eram bastardos. Caíram diante da verdade.

À mera semelhança de Ananias e Safira está a figueira que, de modo anômalo, tentava dar aparência de fruto três meses antes da estação própria. Todas as demais figueiras de Israel estavam peladas de folhas. Isto porque a figueira é uma árvore que primeiro apresenta os frutos, e só depois a folhagem. A oferta de folhagem era a promessa da certeza de haver fruto.

Mas não havia, era só camuflagem! Foi também por essa razão que nenhuma figueira nua de folhas foi amaldiçoada no monte das Oliveiras; mas tão somente aquela representante vegetal do espírito da religião.

As folhagens da figueira expressavam a realidade espiritual de Israel: cheio de religião; cultuando mais o Templo que no Templo; amando mais a Lei que o Criador; crendo mais nas mecânicas rituais do que na Graça de Deus.

Assim, Ananias, Safira e a figueira foram consumidos diante da Verdade”.

A Verdade de que não podemos nos esconder daquilo que somos...

Ananias e Safira tentando se passar por generosos...

A figueira camuflando uma estação que não era a sua...

E assim estamos diante de Deus...

Nus...

Sem camuflagem...

E Deus ama a todo aquele que não teme ser verdadeiro para com Ele.

Vanessa

terça-feira, 6 de maio de 2008

A plenitude do amor





Vivemos num mundo extremista: de um lado, os hedonistas, “cavadores de cisterna”, gente que busca sua própria satisfação, seu próprio prazer, sua auto-realização, sem pensar no outro, sem despojar-se de si um instante que seja...
De outro, os deprimidos, miseráveis de alma, que se auto-anulam com uma bondade doentia em prol do outro ou em busca de aceitação...

“ amarás ao próximo como a ti mesmo”...
Amar ao próximo...
Amar a mim mesma...
Amar ao próximo como amo a mim mesma...

E o mandamento continua a recitar em nosso coração o eco da base de qualidade que tenho para dar e receber: amar o outro como amo a mim mesma!

Isso significa que só assim, nessa dialética amorosa entre mim e o outro, amando e me amando é que posso fazer verdadeiro o mandamento de Cristo.

Por isso, para amar o outro, preciso, primeiramente, me amar...
Preciso gostar de mim, da minha companhia, do meu talento, dos dons graciosamente dados a mim...
Preciso valorizar-me, dar-me atenção, cuidar do meu corpo, da minha alma, do meu espírito... Preciso curtir-me sozinha.... tudo isso ancorada pela gratidão de ser à imagem e semelhança do Altíssimo!
Quem não ama a si mesmo jamais amará próximo nenhum... e quem vive em função do outro e se esquece de si não ama, pois todo amor ao próximo sem amor a mim mesma é apenas carência, insegurança, necessidade de aceitação, barganha inconsciente... mas nunca amor...

Por outro lado, quem só se ama e esquece-se de transpor esse amor ao outro, em gratidão a Deus, não ama a Deus. Isto porque a Palavra diz que se não amamos ao próximo a quem se vê, como amaremos a Deus, o qual nunca o vimos?

Assim, eu sei se cumpro o mandamento de Cristo e avalio minha saúde interior e espiritual pela minha capacidade de me amar e de genuinamente me importar com meu próximo e agir em favor dele.

A segurança em saber que eu sou capaz de amar porque Deus me amou primeiro faz-me grata, equilibrada e segura para demonstrar amor para com o meu próximo, sem auto-anulação, sem bondade doentia, sem vaidade e presunção...

Dessa forma, posso dizer, em sã consciência, que Deus não prestigia religião, culto, altares, políticas, sabedorias humanas ou qualquer outra coisa que se faça fora do amor ao próximo...

No entanto, o amor é tanto mais amor quanto menos recompensado for como galardão fraterno, pois se amo somente o amigo, que proveito terei? Pois amar a quem nos ama e amar a quem gostamos ou a quem tem como nos recompensar é fruto de alienação de Deus e dos seus propósitos existenciais....
Nele, que nos ensina a amar porque nos amou primeiro,
Vanessa



quarta-feira, 16 de abril de 2008

O valor da família


Caracterizar e definir a família é uma tarefa complexa. Alguns autores, ao refletirem a origem da família, questionam a universalidade em torno do conceito, pois percebem que cada agrupamento humano é capaz de instituir seus próprios vínculos de parentesco.

O modelo tradicional de família nuclear e burguesa não pode ser um conceito universal, pois há diferentes realidades familiares, e diferentes formas de vivenciar relações afetivas.
Por esta razão, sabemos que uma família não é formada apenas por vínculos consangüíneos, mas que considera o afeto que configura a convivência social. Assim, a nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto se pode deixar de conferir o status de família

Nesse sentido, quando remetemos nossos olhares para as famílias bíblicas, podemos nos perguntar: onde estavam esses laços afetivos que fazem com que nos tornemos “família”?

Caim, num súbito de inveja, matou seu irmão, Abel. Os filhos de Abraão, Ismael e Isaque, nunca se deram bem. Raquel e Lia, duas irmãs disputando o mesmo homem. Hofni e Finéias, vergonha e dor para o pai Eli. Davi, invejado pelos irmãos, assim como José, o qual fora vendido por eles como escravo para o Egito. Davi e Saul, a pior história de genro e sogro de toda a Bíblia. Amnon ama a irmã Tamar – incesto. Absalão deseja matar o pai, mas morre com a cabeça entre galhos de árvore, trazendo dor e sofrimento a Davi, seu pai. Davi, Urias e Bateseba: desejo, paixão, prazer, traição e morte. Oséias, o marido traído, cuja mulher era dele e de todos.

E o filho pródigo, que promoveu a alegria do pai, mas a inveja e a ira do irmão? Esaú e Jacó, dois irmãos que se desentendem por causa do direito de primogenitura, tendo a mãe acobertando o mal, a mentira, favorecendo um dos filhos. Abraão andava com Deus, mas não conseguiu caminhar com o sobrinho Ló. O que diremos da esposa de Jó, que diante do fato de não poder mais desfrutar dos privilégios que os bens materiais lhe trazia dizia: “Amaldiçoa a Deus e morre”!?

Enfim, relatar o cenário familiar bíblico nem sempre trouxe sossego, ao contrário, a família em várias situações trouxe desgraça e sofrimento. No entanto, a solução para todos os desafetos, as intrigas, as contendas vem “em família.

Para tanto, precisamos nos perguntar o que Jesus ensina acerca da família. Na verdade, foram poucos os ensinamentos em torno da questão familiar, mesmo porque, tudo o que Ele diz passa pelo coração da família. Os princípios para a vida em família são os mesmos para a vida: “ O que quereis que os homens vos façam, fazei isto mesmo vós também a eles”.

Em família Jesus sabe que há invejas e mágoas, ingratidão e desafetos, mas em tudo que ensinou, apontou para a possibilidade de uma qualidade humana e relacional melhor no vínculo e na celebração da convivência em família, seja entre cônjuges, entre pais e filhos, entre sogro e genro, entre nora e sogra, entre tios e sobrinhos...

É por isso que o que move a “roda viva” da família precisa ser o amor. Casamento não pode ser uma liturgia religiosa com um papel com firma reconhecida, mas um “acasalamento” de corpo, alma e espírito. E para os pais e filhos, o sonho de Deus é que os corações dos pais se convertessem aos seus filhos, e o dos filhos, aos seus pais, revelando, outra vez, a essência do Evangelho: ver a vida com os olhos do outro (pai ou filho, esposa e marido). Ou seja, amar, não para fazer o que o outro acha bom, mas para realizar aquilo que a consciência chama de Bem.

Assim, “em família a única formula é aquilo que não nos dá forma nenhuma, pois, em si mesmo, já é a antiforma, que é a Graça...que sendo favor imerecido, acaba cabendo em todas as formas e ganhando todas as caras” (Caio Fábio).

E se para tudo a solução é “em família”, agradeço a Deus pelo privilégio de ter “nos meus”, o amparo para resolver todos os meus conflitos.
Sou um ser, essencialmente, família. E foi por intervenção da dor, da perda, da anulação, da renúncia que Deus me fez afetivamente e materialmente atenta e generosa para cuidar dos meus.

E isso me faz lembrar que cuidar de pai e mãe e de todos os nossos é o mandamento é o único que carrega a promessa de que tal atitude chama prolonga os dias de quem o pratica.

“Na língua hebraica honrar pai e mãe significa pesar, discernir, entender, aprender e, se possível, melhorar pai e mãe em nós, para o nosso bem e para a honra deles. E se Deus é amor, quem quer que O conheça ama com todas as formas genuínas de amor ao próximo; posto que a prova do amor a Deus no mundo, é minha disposição de amar e acolher meu próximo em Graça.

Assim, não cuidar dos meus, dos de minha casa, não importando qual seja a causa por mim alegada para que, podendo, não os ajude, é a própria negação da fé no Deus que é amor.

Assim, filhos que não cuidam de seus pais, mesmo que confessando Jesus com os lábios, são ainda piores que os pagãos mais cínicos e incrédulos; posto que estes não dizem crer no Deus que é amor. Do mesmo modo, pais que deixam seus filhos e os esquecem nesta vida, são piores do que bruxos perversos. Assim também ex-maridos que não se preocupam com o futuro da antiga companheira, são também seres que nunca conheceram o Evangelho (Caio Fábio)

Assim, a família pode ser lugar de vida, esperança e alegria... mas pode ser lugar de angústia, engano, disputas e alterações dramáticas de destinos.

Cada um de nós deve entender nossa posição em Deus para que, em família, possamos resolver todas as nossas angústias e dilemas.E o conceito de família, em Deus, não se estende somente aos grupos consangüíneos, mas definida como ajuntamento de pessoas que carregam em si o amor, vínculo da perfeição, que une e soluciona todo e qualquer conflito existencial.

Nele, que se fez “família” em nós para que “em família” soubéssemos ser “família” no próximo.

Vanessa