quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O valor dos amigos




O que seria da nossa vida sem os amigos? De tão importante, a amizade é tema constante de músicas, sonetos, livros, filmes... Enfim, todos os âmbitos sociais e existenciais contam com a inspiração da amizade, da relação entre duas ou mais pessoas que se amam e estão por perto quando o outro precisa.

A Bíblia descreve casos de amizades verdadeiras, como a de Davi e Jônatas, Paulo e Barnabé, Paulo e Marcos, Pedro e Silas, Sadraque, Mezaque e Abednego. Além disso, o contato direto entre Deus e o homem (teofania) demonstrou o mais alto grau de intimidade entre um transcendente e um humano. A exemplo, Moisés, que teve seu rosto transfigurado ao passar quarenta dias contemplando o Altíssimo. Enoque foi trasladado porque “andava com Deus”. E nos tempos do Deus encarnado (cristofania), embora amando e ensinando a multidões, foi no contato íntimo com os doze discípulos que a amizade estivera intimamente presente.

E a esses, Cristo foi chamando, estabelecendo conexões, sem design, projeto ou arquitetura montada... apenas deixando-se Ser em cada um e cada um permitindo-se ser Nele e para Ele...

E assim é a amizade, o vinculo que, aperfeiçoado no amor, nos enriquece, nos ajuda a crescer, a viver a vida com mais leveza, mais cumplicidade, menos mau humor...É a amizade que nos ancora, nos fortalece frente às adversidades, que nos revigora e permite-nos ver “no outro” a continuidade e a extensão do que temos sido...

Amizade é devoção, é prontidão, é relacionamento harmonioso, mesmo quando a orquestra da vida nos envolve em “desafinos”.

Há amigos de todos os tipos:
Amigo verdadeiro
Amigo da “onça”
Amigo do dia inteiro
Amigo só pra hoje.
Amigo na adversidade
Amigo só na felicidade
Amigo pra qualquer hora
Amigo, dependendo “da hora”...
Amigo “virtual”
Amigo real...
Amigo pra qualquer parada...
Amigo só na “balada”...

Amigo chato...
Amigo que é um barato!

Amigo que escuta
Amigo que só fala de si...
Amigo que se foi...
Amigo que fica...
Amigo que apesar de ter ido, ainda permanece...
Amigo na dor, amigo no amor...
Amigo que apaixona...
Amigo que nos decepciona..
Amigo a quem decepcionamos,
Amigo a quem amamos...
Irmãos que são amigos e
Amigos mais chegados que um irmão.

Jesus, em João 15, dá-nos a dica de como podemos ser seus amigos: “ Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”.

É bom saber que tenho amigos, que estou sendo cuidada e que tenho cuidado de muitos. Enfim, ter amigos enobrece nossa existência, nos tornam melhores, mais protegidos e mais felizes.
Sem amizade, só existe espaço para o vazio e a solidão.

Então, sejamos amigos. E obrigada pelo privilégio de ser chamada de “sua amiga”.
Um beijo no coração de todos, ao sabor de uma verdadeira amizade.

Nele, a quem não nos chama de servos, mas de amigos.


Vanessa

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A encarnação é o modelo para o discipulado cristão

“A encarnação é o modelo para o discipulado cristão. Um discipulado que, antes de ensinar, exortar ou guiar, é um processo de identificação, de solidariedade”

O filme Instinto narra a história de um antropólogo que acaba preso em um manicômio após ser capturado no meio da selva, vivendo como um selvagem entre gorilas. Vivido pelo ator Anthony Hopkins, o estudioso decidira estudar o comportamento daqueles primatas de forma jamais tentada antes – observando-os de perto, em seu habitat.

O filme descreve de maneira empolgante o processo de aproximação entre o professor e o grupo de macacos. Primeiro, o homem precisou vencer o medo de criaturas tão imprevisíveis. Aos poucos, sentiu-se mais à vontade, abrindo mão de equipamentos e acessórios que espantavam os animais, e passou a enxergá-los e admirá-los na sua espantosa singularidade.

Aquele antropólogo do filme aprendeu que, para conhecer os gorilas com profundidade, deveria esvaziar-se de sua postura de dominador. Ele teve que deixar seu acampamento, abrir mão de sua própria segurança e embrenhou-se na selva. Só quando agiu com total desprendimento e entrega, foi aceito pelos macacos e passou a fazer parte do bando. Guardadas as proporções, esta história nos lembra a de outra pessoa: “Cristo Jesus, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”.

Chamamos a este processo de encarnação. Jesus, movido por sua compaixão para conosco, tornou-se carne e viveu entre nós. Ele despiu-se de sua glória e veio habitar em nossa “selva”. Foi assim que passamos a ouvir a Deus em nossa língua; vimos o seu rosto com a nossa cara; tocamos sua majestade em nossa pele; sentimos o aroma da vida em seu cheiro de gente. E então, pudemos finalmente entender as boas notícias do Evangelho: “Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade”.

A encarnação é o modelo para o discipulado cristão. Um discipulado que, antes de ensinar, exortar ou guiar, é um processo de identificação, de solidariedade. O discipulado dignifica aquele a quem se ama e a quem se deseja resgatar. Nossa missão, como a de Jesus, começa pela compaixão e nos impele a uma viagem, uma expedição em direção ao perdido, ao “selvagem”. É ir em direção àqueles chamados de “estranhos às alianças e sem Deus no mundo”. Será que, como Igreja, estamos dispostos a cruzar fronteiras em nome do Evangelho, a deixar nossa zona de conforto e sair em busca da ovelha perdida? Abriremos mão de estar perto de nossos iguais para cumprir a missão junto aos distantes?

Que possamos ouvir do Senhor o que Paulo também ouviu: “Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma”. Vamos em frente, Igreja de Cristo! Mata adentro! Esta é a nossa missão.

André Botelho
Pastor presbiteriano, professor de discipulado na FLAM - Faculdade Latino-Americana de Teologia Integral e missionário da Missão Jovens da Verdade