sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Um elogio ao ócio


Nesses últimos cinco dias estive em família descansando á beira da represa, curtindo o sol, o vento, a natureza...

Tomei água de coco, dormi na rede, nadei...


Contemplei muito a natureza e fiz do meditar do meu coração momentos de oração e gratidão...


Aproveitei também o tempo para ficar abraçadinha com o marido, aproveitar da presença um do outro... contemplar os filhos brincando de barro, fazendo gracinhas, escancarando uma felicidade que há tempos na via...


Foram dias que devem um elogio ao ócio...


Elogio ao ócio?


Sim, surpreendente, mas verdadeiramente necessário. Sempre pensamos nele como algo pejorativo. Isto porque na sociedade atual não há espaço para ao tempo livre. Cada vez mais ocupamos nosso dia com curso, esportes, eventos e, logicamente, trabalho.


Nosso modelo cultural compreende o trabalho como um valor acima de todos os outros. Sendo assim, quem produz e mostra frutos dessa produção é valorizado perante os demais cidadãos. Por isso, o tempo livre, ou ócio, é definitivamente relegado a um plano longe das prioridades dos habitantes do mundo moderno.


Na Grécia antiga, ócio estava voltado a um conhecer e ao projeto de conhecimento de um modo geral; um voltar-se para si mesmo e conhecer o que está ao nosso redor. Isso continuou a ser valorizado também na Idade Média, como meio de se chegar a Deus.

Sócrates foi a “encarnação” do ócio, pois seu estilo de vida fez com que ele só problematizasse idéias, mas nunca criou um sistema filosófico... apenas formulava questionamentos.

Os romanos também retomam a idéia de que o ócio é fundamental para a saúde física e intelectual do ser humano, como parte da tradição helênica adotada pela nova civilização que florescia em vigor.

Com o Renascimento, o trabalho passa a ser valorizado, já que este é o momento do reflorescimento dos centros urbanos, o nascimento da burguesia e dos pequenos negócios. O ócio passa a ser traduzido em forma de festas.

Nietzsche será um dos grandes filósofos que irá criticar o homem moderno e a sua compulsão pelo trabalho – e a ojetiza por parte deste pelo ócio e tempo livre na mesma proporção. Para ele, “a infelicidade dos homens ativos é que sua atividade é quase sempre um pouco irracional. Não se pode perguntar ao banqueiro acumulador de dinheiro, por exemplo, pelo objetivo de sua atividade incessante; ela é irracional.

E acrescenta: “os homens ativos rolam como pedra, conforme a estupidez da mecânica..., aquele que não tem dois terços do dia para si, é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito”.

Russel será outro filósofo defensor do ócio, o qual, para ele, não deveria ser confundido com o pior sentido de preguiça e inação, mas “concebido como tempo de cultivo espiritual, de preparação para o conhecimento, as artes e a política...”.

Na Bíblia, lemos o relato da criação, em que se sugere uma concepção do ócio semelhante à senequiana, como meio propício para o ato contemplativo que precede a ação, e que depois a completa, num olhar admirador. No livro do Gênesis, as origens do universo e do homem se antecedem pela presença do Espírito de Deus que “pairava sobre as águas” (Gn 1, 2). Essa sugestão do ócio divino, no engendramento do ato criador, irá sempre se seguir da ação fecunda e boa.

O texto bíblico conclui o relato da criação - intensamente pedagógico para o povo hebreu - tratando do descanso do Criador, como que numa consagração do ócio, ao apresentá-lo como necessário e útil à vida humana: A partir desse relato, o judaísmo instituiu a lei do repouso sabático obrigatório, guardado como verdadeira festa semanal, sinal da aliança entre Deus e seu povo.

Jesus modifica o conceito errôneo do repouso sabático imposto pelos fariseus, ao revolucionar o Torah, a Lei, colocando a primazia do amor a Deus e ao próximo sobre a própria imposição do sábado apenas como lei... Assim, defendeu sempre a supremacia do homem sobre a lei fria e exterior, que escravizava: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”; e completa: “o Filho do homem é senhor até do sábado” (Mc 2, 27-28).

Na verdade, Jesus falava com a autoridade de quem experimentara - e por isso o defendia -- tanto o contemplar como o agir. Não são poucas as páginas bíblicas que o mostram em momentos de “ociosidade”, em profunda e solitária intimidade com o Pai, antes e depois de agir em favor do próximo, ao mesmo tempo que se dedicava com tal zelo a essa causa, a ponto de não ter uma pedra onde repousar a cabeça.

Censurado por curar um paralítico em dia de sábado, o próprio Jesus recrimina o apego farisaico a uma lei que apregoava a imitação de um Deus preguiçoso que dormia no sábado, enquanto os homens o reclamavam. Por isso, defende, categórico, a sua “desobediência” à lei do sábado, afirmando: “Meu pai trabalha sempre e eu também trabalho” (Jo 5: 17).

Ainda no Evangelho, encontramos a idéia do ócio defendida por Jesus, no episódio na Betânia, em que ele defende a atitude de escuta ociosa de Maria aos seus ensinamentos, como “a melhor parte”, preferível à atitude de Marta, laboriosa e atenta aos serviços domésticos (cf. Lc 10, 38-42).

Na visão bíblica, o ócio revela pessoas contemplativas por opção de vida, mas intensamente ativas em sua obra de dedicação à causa evangélica, ao amor ao próximo.

Mas, não nos enganemos...

Nossa sociedade concebe um deus do sucesso, sempre e a qualquer preço. Nele ninguém descansa, porque nele ninguém confia. Fruto disso, é essa nossa alegria, toda circunstancial e baseada no “concreto” – E só construímos concretudes no “concreto”. Abstrações e subjetividades existenciais estão fora de moda – até a “igreja” debocha dessas ênfases, pois sobre o “concreto” erguemos o que chamamos “Vida”. Ou seja, a gente não consegue construir nada se não enxergar os tijolos.

E aí a vida vira isso que a nossa vida é: Para cima! Avante! Produção! Concreto! Sem parar! Tijolos! E nada fica mais concreto que a insaciedade que nos habita e infelicita desde Babel. E Babel ainda habita em nós como síndrome: Quanto mais alto, melhor!

Também não nos enganemos...
Em nosso país, como nos demais subdesenvolvidos, a remuneração é muito baixa, e por isso é preciso trabalhar mais para sustentar a família e suprir as necessidades básicas. Pois uma coisa é utilizar-se do trabalho para ganhar mais... outra coisa é ter que trabalhar mais para suprir tais necessidades.

E, com certeza, quem precisa sustentar a casa com a labuta de cada dia, terá menos possibilidade de um bom ócio.

No entanto, para ricos e pobres, famintos e saciados, há um convite de Deus ao ócio. Náo ao ócio simplesmente preguiçoso, que só serve para esvaziar nossa mente das coisas que realmente edificam e nos engrancedem ... mas ao ócio contemplativo...

Seja criativo, aproveite melhor o seu tempo e confie mais no Deus que instituiu o descanso, que nos ordenou a não andar ansiosos por cousa alguma e que defendeu tanto o agir quanto o contemplar...

Grande beijo,
Vanessa

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Deus não faz acepção de pessoas


O paradigma de conduta, de vida, de amorosidade, de solidariedade, explícitas em Jesus, “fere” os modelos eclesiásticos dos tempos atuais, que em nada têm de Evangelho, pois não carregam a mensagem da cruz.

Jesus a tudo tratou com simplicidade, e desprezou o que a filosofia e a teologia tratam com avidez.

Palavras e discursos nunca fizeram parte da vida de Cristo, posto que, para Ele, qualquer projeto político, bandeira de luta, manifesto ou coisa semelhante, sem a pureza das ações e da compaixão ao próximo, não passavam de especulações vazias.

Assim, por meio de suas ações, denunciou a corrupção do coração e os estragos conseqüentes do poder da hipocrisia e do desamor.

Por esta razão, a forma como Jesus tratou os excluídos da história, os excluídos da vida, revela Quem Ele É! E tudo o que disse e se mostrou ser nunca foi teologizado, apenas relacionado ao que se tem que ser e fazer.

É por isso que os cegos, os coxos, os leprosos, os publicanos, os cobradores de impostos, os doentes, os empobrecidos, os famintos, os pequeninos, as adúlteras, as prostitutas, os ladrões, sempre tiveram “menção” especial nas Escrituras para que se revelasse, em nós, a dureza, o preconceito, a indiferença e a falta de amor...

E a pergunta que deixo é: será que temos nos disposto a ir, sem preconceito, mas de pureza de alma, falar do amor de Deus a esses, que apesar de excluídos, são também objetos do Seu amor?

Deus é livre para amar a quem deseja, mesmo que isso vá contra todas as opiniões humanas, contra toda a ética e a moral cristã ...

Um beijo, Nele, que amou a todos e não fez acepção de quem quer que fosse...