sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Saudades...


Meus amigos:

Já são quase duas da madruga e um sentimento diferente tomou conta de mim...

Senti vontade de escrever, de passear minhas mãos por esses teclados e deixar que meu coração determine o que tiver vontade de fazer brotar daqui...

Senti saudades da infância...

Senti saudades de papai e mamãe juntos e de nós quatro, Lu, Léo, Marcinha e eu...

Saudades das tardes e brincadeiras de rua, dos dias de escola, das bacias de pipoca em dias de chuva...

Saudades de ser pequena em colos grandes.

Saudades de fugir de casa de bicileta...

Saudades de subir em árvores e de ser eu.

Saudades de me darem beijinhos de boa noite e de jantar de pijama e cabelo molhado.

Saudades de acordar de madrugada para puxar o sol do sono demasiado longo para dias demasiado curtos...
Saudades de pedir licença para ver televisão, saudades de ficar de castigo quando fazia asneiras...
Saudades de chorar lágrimas pequeninas, que as grandes pesam muito e a força ficou lá atrás...

Saudades das sextas no Alô Brasil e do papai, sentado no sofá cantando: Sapatinho, meinha... Era a hora de nós, irmãos, apostarmos corrida pra ver quem calçava os pés de papai com as meias e os sapatos... E eu, trocando as cores das meias só pra depois achar graça do mal feito...

Saudades de brincar de casinha com a caçula, de passear no cemitério, livre, alegre e inocentemente lavando túmulos e curtindo o cheiro de velas queimadas e flores “defuntadas”...

Saudades dos pique-escondes, das carimbadas, do entregador de guaraná mineiro e Yakult que, décadas atrás, entregava de porta em porta tais mercadorias...

Saudades das viagens à praia com a família... Caraguatatuba, Ilha Bela, Gramado, Floripa, Guarujá, Camboriú, Blumenau...

Saudades do corcel marrom, novinho em folha... que acomodava todos nós e mais uma ou duas primas...

Saudades dos finais de semana na chácara, curtindo a piscina no meio do brejo, compartilhando com baratas d’água e pererecas o banho maravilhoso que só aquela água da bica proporcionava...
Saudades de papai lavando o chiqueiro, matando cobras, tirando leite de vaca, plantando cenourinhas e beterrabas... pintando com cal os pés de laranja e mangueirais...

Saudades dos pés de pitanga, dos pés de amora, das inúmeras espécies de manga, abacates, carambolas, laranjas e cajamangas...

Saudades do paiol onde brincávamos nas palhas de arroz e nos empetecando de piolhos de galinha com os primos...

Saudades dos finais de semana com arroz, frango e macarrão, papai, mamãe e irmãos...

Saudades dos passeios de moto com papai, onde meus bracinhos ainda não conseguiam dar a volta toda em sua barriga...
Saudades dos finais de semana com primos e primas...
Saudades das festinhas de aniversário e dos bolos confeitados...

Saudades da mamãe carinhosa, cumprindo seu dever missionário e nos levando à escola bíblica dominical...

Saudades das brigas de irmãos por causa dos danones e dos chocolates diamante negro – naquela época, só vendiam em pacotinhos de cinco unidades, e éramos em quatro...

Saudades das aulas de violão e guitarra...

Senti saudades da adolescência...
Dos beijos escondidos,
Dos namoros efêmeros,
Do Roupa Nova e Legião Urbana com o Léo cantando Faroeste Caboclo...

Saudades da Alfredo Júlio e dos seus bordéis...

Senti saudades da juventude...
Dos acampamentos, das serenatas, do namoro vigiado...

Saudades da tristeza...
Saudades da desesperança e do desespero quando papai adoeceu...
Saudades de sua alegria em meio à sua desgraça...
Saudades do meu choro quando tinha que limpá-lo...

Saudades da mamãe costurando...

Será que a vida é só saudades?

Saudades de pessoas...
Saudades de quem falta, de quem parte, de quem sabemos que não volta e de quem certamente reencontraremos...

Tenho saudade do passado, do presente e do futuro. De músicas, cheiros e vozes que não ouvirei nem sentirei mais.

Tenho saudades de tudo e de nada, porque não podemos ser íntegros nunca e ter em nós ao mesmo tempo todas as coisas que nos compõem, sejam elas memórias ou desejos...

Haverá maneira de saírem de si mesmas e regressarmos, em todas elas, sem faltar uma única, a nós?
Um grande beijo, com muita saudade de alguns...
Vanessa

No princípio criou Deus os céus e a terra...?


... texto ofertado aos amigos teistas, deistas, ateistas, crentes, des-crentes, religiosos, ou não... em fim , seres humanos aos quais tenho que agradecer pela caminhada da vida...

Marcelo Fernandes

O princípio andrópico


A vida e a consciência pertencem ao universo, mais concretamente, à nossa galáxia, à Via-Láctea, ao sistema solar e ao planeta Terra. Para que tivessem surgido, foi preciso uma calibragem refinadíssima de todos os elementos, especialmente, das assim chamadas constantes da natureza (velocidade da luz, as quatro energias fundamentais, a carga dos elétrons, as radiações atômicas, a curvatura do espaço-tempo entre outras). Se assim não fosse não estaríamos aqui escrevendo sobre isso. Refiro apenas um dado do último livro do astrofísico Stephen Hawing "Uma nova história do tempo"(2005):"Se a carga elétrica do elétron tivesse sido ligeiramente diferente, teria rompido o equilíbrio da força eletromagnética e gravitacional nas estrelas e, ou elas teriam sido incapazes de queimar o hidrogênio e o hélio, ou então não teriam explodido. De uma maneira ou de outra a vida não poderia existir"(p.120). A vida pertence,pois, ao quadro geral.


Para conferir alguma compreensão a esta refinada combinação de fatores se criou a expressão "princípio andrópico" (que tem a ver com o homem). Por ele se procura responder a esta pergunta que naturalmente colocamos: por que as coisas são como são? A resposta só pode ser: se fosse diferente nós não estaríamos aqui. Respondendo assim não cairíamos no famoso antropocentrismo que afirma: as coisas só têm sentido quando ordenadas ao ser humano, feito centro de tudo, rei e rainha do universo?


Há esse risco. Por isso os cosmólogos distinguem o princípio andrópico forte e fraco. O forte diz: as condições iniciais e as constantes cosmológicas se organizaram de tal forma que, num dado momento da evolução, a vida e a inteligência deveriam necessariamente surgir. Esta compreensão favoreceria a centralidade do ser humano.


O princípio andrópico fraco é mais cauteloso e afirma: as precondições iniciais e cosmológicas se articularam de tal forma que a vida e a inteligência poderiam surgir. Essa formulação deixa aberto o caminho da evolução que demais a mais é regida pelo princípio da indeterminação de Heisenberg e pela autopoiesis de Maturana-Varela.


Mas olhando para trás, nos bilhões de anos, constatamos que de fato assim ocorreu: há 3,8 bilhões de anos surgiu a vida e há uns quatro milhões de anos, a inteligência. Nisso não vai uma defesa do "desenho inteligente" ou da mão da Providência divina. Apenas que o universo não é absurdo. Ele vem carregado de propósito. Há uma seta do tempo apontando para frente.


Cabe ainda considerar que o cosmos está em gênese, se autoconstruindo. Cada ser mostra uma propensão inata a irromper, crescer e irradiar. O ser humano também. Apareceu no cenário quando 99,96% de tudo já estava pronto. Ele é expressão do impulso cósmico para formas mais complexas e altas de existência.


Alguns aventam a idéia: mas não seria tudo puro acaso? O acaso existe como mostrou Jacques Monod. Mas ele não explica tudo. Bioquímicos comprovaram que para os aminoácidos e as duas mil enzimas subjacentes à vida pudessem se aproximar, constituir uma cadeia ordenada e formar uma célula viva seriam necessários trilhões e trilhões de anos.


Portanto mais tempo do que o universo e a Terra possuem. Talvez o recurso ao acaso mostre apenas nossa incapacidade de entender ordens superiores e extremamente complexas como a consciência, a inteligência, o afeto e o amor. Não seria melhor calarmos reverentes e respeitosos?
Leonardo Boff

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Jesus morreu para salvar o Cristianismo?


O surgimento da Igreja é descrito em Atos 2. Cinqüenta dias após a ressurreição de Jesus, o Espírito Santo veio sobre os cristãos na Festa de Pentecostes, dotando-os de dons e capacitando-os para o serviço do Reino.


Isso significava que, a partir daquele momento, os cristãos seriam os “mensageiros” da boa-nova e a própria habitação do Espírito Santo.
A narrativa que nos é apresentada sobre essas pessoas cristãs revela como viviam:

"perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão, nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de cada em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos (Atos 2:42-27).

Que diferença dos “vaticanos” atuais”! Quando refletimos sobre a singeleza da Igreja primitiva, percebemos como a instituição religiosa que a intitularam de “Igreja” em nada se parece com a Igreja Invisível de Cristo. Isto porque a Igreja-instituição surge no quarto século, com Constantino, cuja religião passa a ser o Cristianismo.


Quando os líderes do Império Romano percebem que os cristãos passam a ser uma ameaça para a manutenção do poder, oficializam o Cristianismo como religião do Império e passam a perseguir todos aqueles que não se consideram “cristãos”. Ou seja, no jogo do poder, na ordem das “conveniências”, muda-se o destino, a rota, a fim de que se mantenham as relações entre os que mandam e os que obedecem, num ciclo de subserviência que ainda, nos dias atuais, continuamos a presenciar!


Assim, o Cristianismo já nasceu sob o signo da perversão, na contramão da Igreja Primitiva. Não foi Cristo quem fundou o Cristianismo e nem qualquer outra religião. Jesus não deu a sua vida pra salvar o cristianismo e nenhuma outra religião da Terra., pois Ele é Senhor e Salvador de todos os homens, e não dos filhos do Cristianismo.


Nesse sentido, o convite feito a todos os que participaram do Fórum foi para que voltássemos nossos olhos para a origem dos ensinos de Cristo, entendendo o que Ele desejou quando implantou em cada um de nós a Sua Igreja.


Crescer em entendimento e experiência da Graça de Deus na presente existência, confrontando o que é religião, invenção humana, artimanha de poder com o Evangelho-Cristo requer um coração limpo, purificado, tendo o discernimento de saber o que convém e o que edifica. Isto porque sabemos que quem, de fato e de verdade, entendeu o evangelho e seu significado, sabe que o Cristianismo se tornou uma perversão da proposta de Cristo transformando o Evangelho puro e simples numa religião com dogmas, doutrinas, usos, costumes, tradições com poder de imutabilidade e muita barganha com os homens, em franca e pagã manipulação do nome de Deus.


Atender ao chamado de Cristo para que sejamos seres-sal-e-luz se espalhando pela Terra, e se diluindo em sabores e luzes que só serão sentidas, mas jamais se tornando uma Salina ou uma Usina de luz cristã, a serem visitadas pelos curiosos, é o que desejamos como Igreja.


Este é o convite de Deus para que cresçamos como gente ainda nessa vida!
Você vem?
Beijo a todos, com muito amor,
Nele, que é o Caminho em movimento nos caminhos da existência,
Vanessa