quarta-feira, 16 de abril de 2008

O valor da família


Caracterizar e definir a família é uma tarefa complexa. Alguns autores, ao refletirem a origem da família, questionam a universalidade em torno do conceito, pois percebem que cada agrupamento humano é capaz de instituir seus próprios vínculos de parentesco.

O modelo tradicional de família nuclear e burguesa não pode ser um conceito universal, pois há diferentes realidades familiares, e diferentes formas de vivenciar relações afetivas.
Por esta razão, sabemos que uma família não é formada apenas por vínculos consangüíneos, mas que considera o afeto que configura a convivência social. Assim, a nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto se pode deixar de conferir o status de família

Nesse sentido, quando remetemos nossos olhares para as famílias bíblicas, podemos nos perguntar: onde estavam esses laços afetivos que fazem com que nos tornemos “família”?

Caim, num súbito de inveja, matou seu irmão, Abel. Os filhos de Abraão, Ismael e Isaque, nunca se deram bem. Raquel e Lia, duas irmãs disputando o mesmo homem. Hofni e Finéias, vergonha e dor para o pai Eli. Davi, invejado pelos irmãos, assim como José, o qual fora vendido por eles como escravo para o Egito. Davi e Saul, a pior história de genro e sogro de toda a Bíblia. Amnon ama a irmã Tamar – incesto. Absalão deseja matar o pai, mas morre com a cabeça entre galhos de árvore, trazendo dor e sofrimento a Davi, seu pai. Davi, Urias e Bateseba: desejo, paixão, prazer, traição e morte. Oséias, o marido traído, cuja mulher era dele e de todos.

E o filho pródigo, que promoveu a alegria do pai, mas a inveja e a ira do irmão? Esaú e Jacó, dois irmãos que se desentendem por causa do direito de primogenitura, tendo a mãe acobertando o mal, a mentira, favorecendo um dos filhos. Abraão andava com Deus, mas não conseguiu caminhar com o sobrinho Ló. O que diremos da esposa de Jó, que diante do fato de não poder mais desfrutar dos privilégios que os bens materiais lhe trazia dizia: “Amaldiçoa a Deus e morre”!?

Enfim, relatar o cenário familiar bíblico nem sempre trouxe sossego, ao contrário, a família em várias situações trouxe desgraça e sofrimento. No entanto, a solução para todos os desafetos, as intrigas, as contendas vem “em família.

Para tanto, precisamos nos perguntar o que Jesus ensina acerca da família. Na verdade, foram poucos os ensinamentos em torno da questão familiar, mesmo porque, tudo o que Ele diz passa pelo coração da família. Os princípios para a vida em família são os mesmos para a vida: “ O que quereis que os homens vos façam, fazei isto mesmo vós também a eles”.

Em família Jesus sabe que há invejas e mágoas, ingratidão e desafetos, mas em tudo que ensinou, apontou para a possibilidade de uma qualidade humana e relacional melhor no vínculo e na celebração da convivência em família, seja entre cônjuges, entre pais e filhos, entre sogro e genro, entre nora e sogra, entre tios e sobrinhos...

É por isso que o que move a “roda viva” da família precisa ser o amor. Casamento não pode ser uma liturgia religiosa com um papel com firma reconhecida, mas um “acasalamento” de corpo, alma e espírito. E para os pais e filhos, o sonho de Deus é que os corações dos pais se convertessem aos seus filhos, e o dos filhos, aos seus pais, revelando, outra vez, a essência do Evangelho: ver a vida com os olhos do outro (pai ou filho, esposa e marido). Ou seja, amar, não para fazer o que o outro acha bom, mas para realizar aquilo que a consciência chama de Bem.

Assim, “em família a única formula é aquilo que não nos dá forma nenhuma, pois, em si mesmo, já é a antiforma, que é a Graça...que sendo favor imerecido, acaba cabendo em todas as formas e ganhando todas as caras” (Caio Fábio).

E se para tudo a solução é “em família”, agradeço a Deus pelo privilégio de ter “nos meus”, o amparo para resolver todos os meus conflitos.
Sou um ser, essencialmente, família. E foi por intervenção da dor, da perda, da anulação, da renúncia que Deus me fez afetivamente e materialmente atenta e generosa para cuidar dos meus.

E isso me faz lembrar que cuidar de pai e mãe e de todos os nossos é o mandamento é o único que carrega a promessa de que tal atitude chama prolonga os dias de quem o pratica.

“Na língua hebraica honrar pai e mãe significa pesar, discernir, entender, aprender e, se possível, melhorar pai e mãe em nós, para o nosso bem e para a honra deles. E se Deus é amor, quem quer que O conheça ama com todas as formas genuínas de amor ao próximo; posto que a prova do amor a Deus no mundo, é minha disposição de amar e acolher meu próximo em Graça.

Assim, não cuidar dos meus, dos de minha casa, não importando qual seja a causa por mim alegada para que, podendo, não os ajude, é a própria negação da fé no Deus que é amor.

Assim, filhos que não cuidam de seus pais, mesmo que confessando Jesus com os lábios, são ainda piores que os pagãos mais cínicos e incrédulos; posto que estes não dizem crer no Deus que é amor. Do mesmo modo, pais que deixam seus filhos e os esquecem nesta vida, são piores do que bruxos perversos. Assim também ex-maridos que não se preocupam com o futuro da antiga companheira, são também seres que nunca conheceram o Evangelho (Caio Fábio)

Assim, a família pode ser lugar de vida, esperança e alegria... mas pode ser lugar de angústia, engano, disputas e alterações dramáticas de destinos.

Cada um de nós deve entender nossa posição em Deus para que, em família, possamos resolver todas as nossas angústias e dilemas.E o conceito de família, em Deus, não se estende somente aos grupos consangüíneos, mas definida como ajuntamento de pessoas que carregam em si o amor, vínculo da perfeição, que une e soluciona todo e qualquer conflito existencial.

Nele, que se fez “família” em nós para que “em família” soubéssemos ser “família” no próximo.

Vanessa

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Vem para fora!


Em João capítulo 11 há uma narrativa que sempre me comove...

Lázaro, irmão de Marta e Maria era amigo de Jesus. Jesus amava Lázaro, mas ainda assim, este amigo tão amado viera a morrer...
E depois de morto, viera a apodrecer ao ponto de criar o choque de repugnância que sobre todos veio. “Já cheira mal. Já é de quatro dias” - era o que se sabia sem dúvida alguma

Jesus, no entanto, ama Lázaro podre! E não o faz deixar de estar podre de tão morto que estava apenas para provar que amava a Lázaro. Afinal, somente Jesus sabe se é a vida, a morte, a dor, a perda, o socorro, ou indisponibilidade de Deus aquilo que levará o homem ao amor de Deus.

E esta narrativa nos ensina que...

Jesus é Aquele que se emociona com a vida e chora diante da morte!

Jesus, ante a situação de morte do amigo, mesmo tendo em suas mãos o poder da vida e da morte, comove-se ...

Jesus chora... O Jesus humano se compadece...

E chora um pouco antes de ressuscitar Lázaro. Um paradoxo: saber que vai tirar o amigo da morte, porém, a despeito disso, chorar...

Sim... Um grande paradoxo, pois é assim, em meio a contradições que nós também “enxergamos” o futuro melhor e, mesmo assim, choramos diante do imediato.

Lázaro morreu. Mas e daí? Se Paulo dizia que era lucro partir e estar com Cristo, que não dizer do fato que para Lázaro o céu estava Lá e estava Cá; pois, Lá, estava Cristo, no Mistério do Pai; e, Aqui, estava Jesus, que era Um com o Pai.

“Já passou da morte para a vida” é a garantia que Jesus nos dá quanto ao fato de que agora tudo é nosso, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas do presente ou do porvir, tudo é nosso, e nós de Cristo, e Cristo de Deus...

Lázaro... vem para fora! É o convite de Jesus para que Lázaro retorne à vida...

Este é o convite de Deus a você... Venha para fora... venha para a vida...

Depois de sair da tumba existencial, é preciso se desatar das amarras que o prende, que o impede de ver a vida como ela de fato é, em Cristo...

Vai cheirar mal...

Mas é o poder purificador de Cristo que fará com que exalemos o bom perfume...
Você vem?
Nele, que nos tirou da morte e nos trouxe à vida!!!
Vanessa