segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A encarnação é o modelo para o discipulado cristão

“A encarnação é o modelo para o discipulado cristão. Um discipulado que, antes de ensinar, exortar ou guiar, é um processo de identificação, de solidariedade”

O filme Instinto narra a história de um antropólogo que acaba preso em um manicômio após ser capturado no meio da selva, vivendo como um selvagem entre gorilas. Vivido pelo ator Anthony Hopkins, o estudioso decidira estudar o comportamento daqueles primatas de forma jamais tentada antes – observando-os de perto, em seu habitat.

O filme descreve de maneira empolgante o processo de aproximação entre o professor e o grupo de macacos. Primeiro, o homem precisou vencer o medo de criaturas tão imprevisíveis. Aos poucos, sentiu-se mais à vontade, abrindo mão de equipamentos e acessórios que espantavam os animais, e passou a enxergá-los e admirá-los na sua espantosa singularidade.

Aquele antropólogo do filme aprendeu que, para conhecer os gorilas com profundidade, deveria esvaziar-se de sua postura de dominador. Ele teve que deixar seu acampamento, abrir mão de sua própria segurança e embrenhou-se na selva. Só quando agiu com total desprendimento e entrega, foi aceito pelos macacos e passou a fazer parte do bando. Guardadas as proporções, esta história nos lembra a de outra pessoa: “Cristo Jesus, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”.

Chamamos a este processo de encarnação. Jesus, movido por sua compaixão para conosco, tornou-se carne e viveu entre nós. Ele despiu-se de sua glória e veio habitar em nossa “selva”. Foi assim que passamos a ouvir a Deus em nossa língua; vimos o seu rosto com a nossa cara; tocamos sua majestade em nossa pele; sentimos o aroma da vida em seu cheiro de gente. E então, pudemos finalmente entender as boas notícias do Evangelho: “Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade”.

A encarnação é o modelo para o discipulado cristão. Um discipulado que, antes de ensinar, exortar ou guiar, é um processo de identificação, de solidariedade. O discipulado dignifica aquele a quem se ama e a quem se deseja resgatar. Nossa missão, como a de Jesus, começa pela compaixão e nos impele a uma viagem, uma expedição em direção ao perdido, ao “selvagem”. É ir em direção àqueles chamados de “estranhos às alianças e sem Deus no mundo”. Será que, como Igreja, estamos dispostos a cruzar fronteiras em nome do Evangelho, a deixar nossa zona de conforto e sair em busca da ovelha perdida? Abriremos mão de estar perto de nossos iguais para cumprir a missão junto aos distantes?

Que possamos ouvir do Senhor o que Paulo também ouviu: “Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma”. Vamos em frente, Igreja de Cristo! Mata adentro! Esta é a nossa missão.

André Botelho
Pastor presbiteriano, professor de discipulado na FLAM - Faculdade Latino-Americana de Teologia Integral e missionário da Missão Jovens da Verdade


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