domingo, 23 de novembro de 2008

O que me basta?



Historicamente, o Brasil é um país fortemente marcado pelas desigualdades sociais. Um conjunto de razões ligadas à sua formação histórica faz com que a sociedade brasileira continue caracterizada pelas disparidades sociais e pela pobreza que, ao se combinarem, alimentam o crescimento inexorável da violência urbana transformada em principal flagelo das grandes cidades.


Violência esta que cresce a cada dia, fruto também de um mundo globalizado que exclui milhões de pessoas do acesso a bens de consumo, do lazer, da educação, etc.

A flexibilização e adaptação constantes ao mundo do trabalho, a instabilidade, os empregos incertos que surgem e desaparecem de acordo com as regras do jogo que transcendem as características particulares de uma localidade, geram e intensificam a exclusão social.


Exclusão esta que produz seres humanos “supérfluos”, excedentes, redundantes do ponto de vista da produção material e intelectual - uma conseqüência da globalização e do progresso econômico que, nos dizeres de Bauman, em Vidas Desperdiçadas, “se espalha pelos mais remotos recantos de nosso planeta “abarrotado”, esmagando em seu caminho todas as formas de vida remanescentes que se apresentem como alternativas à sociedade de consumo” (2005, p;76).

Neste espaço global, “regras são estabelecidas e abandonadas no curso da ação, e o mais forte, o mais habilidoso, o mais veloz, o que tem maiores recursos e o mais inescrupuloso é que as impõem e derrubam” (idem, p.83).

Essa estrutura de dominação econômica dos países ricos sobre os mais pobres, principalmente sobre países emergentes como o Brasil, desprovido de longa tradição democrática e de instituições capazes de amortecer os choques causados pela mutação do trabalho e do indivíduo, neste limiar de século, vai “arando” um terreno de incertezas, que gera medo, angústia e insegurança.


Neste cenário, as narrativas bíblicas tendem a ficar cada vez mais distantes do imaginário coletivo...


Jesus, em Mateus 6 disse:


"Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, e contudo, o vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida? Quanto ao vestuário, por que andais ansiosos? Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam. Eu, porém, vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?Portanto, não andeis ansiosos, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? Pois os gentios procuram todas estas coisas. De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas elas. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".



Um enorme desafio para a civilização do excesso, da superfluidade, da superficialidade, do refugo e de sua remoção... para os habitantes das sociedades contemporâneas, onde nada se destina a permanecer... onde "os objetos úteis e indispensáveis de hoje são, com pouquíssimas exceções, o refugo de amanhã" (Zygmund Bauman)...

Civilizações que se divinizaram e humanizaram o Divino...
Que trocam o significado do ser pelo ter...

Sociedades do consumo e da produção de refugos...



Sociedades com "um modo de vida que está moribundo - a cultura do individualismo competitivo, o qual, em sua decadência, levou a lógica do individualismo ao extremo de uma guerra de tudo contra tudo, à busca da felicidade em um beco sem saída de uma preocupação narcisita com o eu" (Christopher Lasch)



Que o grito de Luigi Zoja nos alcance: "Eu sou quase nada: como posso querer tudo"?

Assim como Paulo, posso dizer :"Senhor, a tua graça me basta"...



Vanessa






2 comentários:

Daiane Landim disse...

Oiiee vanessa,essa noite meu email estava fora de ar,então não deu pra mim te dar os parabens,pois não podia deixar de dar pois os.. Parabens amiga,por essa vitoria sua de ter passo no doutorado,estou muito orgulhosa de você,você batalhou por isso e conseguiu...Deus te abençoe muito!!

Túlio disse...

E pensar que todos os problemas que passam em nosso país e no mundo, com este excesso de desigualdade e crise internacional irá desaparecer. É porque com o Natal, Ano-novo e o início do Big Brother Brasil 9, toda e qualquer discussão estará jogada para segundo plano.

Com nossa visão consumista do mundo, não conseguimos compreender e nem aceitar uma sociedade em que a prioridade não seja comprar um celular 3G, um carro bonito ou um apartamento na riviera. Viver é ter.Qualquer coisa que não seja isto é não viver.
O que seria mais importante? saúde, educação, moradia, emprego, hospitais, mortalidade infatil, casa própria ou seria mais nescessário: calças Diesel, Mcdonalds, iPhone, Honda Civic, TV a cabo com 150 canais?
Vivemos numa liberdade relativa, e condicionada ao que temos, e quem não pode ter ela é bem cruel.