CONTRA O FANATISMO
AMÓS OZ
Resenha por Henrique Chagas
[ VERDES TRIGOS - http://www.verdestrigos.org/ ]
O fanatismo e a intolerância são os temas principais deste livro, resultado de três conferências realizadas por Amós Oz no Fórum de Literatura da Universidade de Tübingen, na Alemanha, onde atuou como professor convidado em 2002. O ponto de partida é, evidentemente, o mundo pós-11 de setembro, com a disseminação do terror e o acirramento dos conflitos entre árabes e israelenses.
O escritor israelense vai, no entanto, muito além do noticiário ao tentar investigar as motivações mais profundas - e universais - daqueles que matam e morrem apegados cegos por suas certezas. Pessoas que explodem clínicas de aborto nos Estados Unidos, que queimam mesquitas e sinagogas aqui na Alemanha diferem de Bin Laden apenas em escala, mas não na natureza de seus crimes, argumenta.
Em 1967, Amós Oz foi à guerra por entender que seu país, Israel, estava ameaçado. Na década seguinte já militava no PAZ AGORA, principal movimento pacifista israelense. Por isso, este texto traduz mais do que idéias: sua substância é a vivência de quem rememora a infância, quando atirava pedras nos blindados britânicos que ocupavam Jerusalém assim como os palestinos o fazem hoje contra as tropas israelenses. Com um texto claro e muitas vezes irônico, como quando fala de fanáticos mais civilizados, como antitabagistas e vegetarianos radicais, Amós Oz receita doses de bom-humor contra o fanatismo, recorrendo a escritores como Shakespeare, em cujas obras toda forma de fanatismo acaba em tragédia ou comédia.
Para o autor, quanto mais você tem razão, mais engraçado fica. O tom leve do livro, mesmo quando trata de temas polêmicos, pode ser exemplificado no conselho dado pela avó do escritor sobre as diferenças entre cristãos e judeus quanto à chegada do Messias. Se o Messias vier e disser oi, é muito bom revê-los os judeus vão ter que reconhecer seu engano. Se, de outro modo, o Messias chegar dizendo muito prazer, é um prazer conhecê-los, todo o mundo cristão terá que pedir desculpas aos judeus.
Contra o fanatismo é apresentado no entusiasmado prefácio de Nadine Gordimer, escritora sul-africana premiada com o Nobel de Literatura em 1991, como a voz da sanidade que ultrapassa a confusão, a mentira, a baboseira histérica e a retórica existente no mundo sobre os conflitos atuais. Amós Oz nasceu em Jerusalém em 1939.
Sua obra já foi traduzida para mais de 30 idiomas. É autor, dentre outros romances, de Meu Michel, A caixa preta, Pantera no porão e O mesmo mar. FRASESe o redentor viesse, ele viria contando piadas (...). No momento em que aprendermos a rir de nós estaremos imunes ao fanatismo.
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