quarta-feira, 26 de março de 2008

Identidade ou alteridade?


Um conceito novo que chegou ao meu universo vocabular, apresentou-se tão generoso e que, por isso mesmo, tem sido um termo frequënte em minhas leituras, em minha fala e, ainda com muitas limitações, em minhas ações é alteridade.

Segundo a enciclopéia Wikipédia, alteridade (ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Isto significa dizer que a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).

Dessa forma, eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato.

E é justamente essa questão do eu e dos outros o cerne da antropologia, da história e de uma maneira muito mais aperfeiçoada, nos ensinamentos de Jesus.

Precisamos do outro para nos constituirmos como gente, e é esse outro que nos fará crescer a partir da plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Segundo Frei Beto, quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem.
A nossa tendência é colonizar o outro, ou partir do princípio de que eu sei e ensino para ele.

É por meio do exercício da alteridade, do despojar-se de mim mesmo para compreender o outro é que posso alcançar a virtude da generosidade.. E como ainda salienta Frei Beto,

só existe generosidade na medida em que percebo o outro como outro e a diferença do outro em relação a mim. Então sou capaz de entrar em relação com ele pela única via possível porque, se tirar essa via, caio no colonialismo, vou querer ser como ele ou que ele seja como sou -a via do amor, se quisermos usar uma expressão evangélica; a via do respeito, se quisermos usar uma expressão ética; a via do reconhecimento dos seus direitos, se quisermos usar uma expressão jurídica; a via do resgate do realce da sua dignidade como ser humano, se quisermos usar uma expressão moral. Ou seja, isso supõe a via mais curta da comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir da sua experiência de vida e da sua interioridade". * Frei Betto
Assim, para que haja a disposição na compreensão do outro precisamos, primeiramente, "abrir mão" dos nossos pré-julgamentos..., das nossas pré-suposições...

Todas as guerras, sejam elas étnicas, religiosas, raciais... são fruto de intolerância e da falta de alteridade. Nesse mundo moderno e consumista em que impera o valor da identidade e do indivíduo, não tem havido espaço para a alteridade...

E experimentar a alteridade em nossa existência só é possível se for pela via do amor...

" Ainda que eu distribua todos os meus bens aos pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará...

O amor não procura seus interesses... tudo sofre, tudo crê, tudo suporta. O amor jamais acaba... (Carta do apóstolo Paulo á Igreja em Corinto).

Vanessa

Um comentário:

Unknown disse...

Oi, querida amiga-irmã Vanessa. Mais uma vez escolhe um tema básico da nossa vida.
Alteridade, palavra nova até para meu navegador que corrige tudo... rsrs
Este tema me traz a memória certo tempo de adolescência, onde um amigo disse que era independente e não precisava de ninguém... nossa professo perguntou-lhe se ele sabia fazer pão... ele respondeu que não. A professora insistiu, sabe costurar? Ele sem jeito, disse que não. Sem dizer mais nada e percebendo que todos, incluindo o meu amigo, tinham entendido o recado, continuou a aula. Um ensinamento maravilhoso, que juntamente com seu texto, me reforça a idéia de que viemos dos outros, para os outros.

Grande beijo e paz no coração