domingo, 14 de dezembro de 2008

Como está o seu jardim?

"No meio do deserto existe um oásis. Nele não há árvores frondosas, odaliscas, lagos frescos e frutas grávidas do melhor sumo. No meio do Deserto de Neguev, em Israel, existe um deserto chamado Amós Oz e nele tudo o que podemos beber são algumas talagadas de esperança, liberdade, imaginação e paz, sem nada do pieguismo que muitas vezes acompanha tais conceitos."

Foi com esses elementos que este israelense, nascido em Jerusalém há 65 anos, construiu uma das literaturas mais sensíveis de hoje sobre o "humano, demasiado humano", para emprestar a expressão de Nietzsche. E em seu livro contra o fanatismo, Amós Oz escreve:

" Creio que a essência do fanatismo reside no desejo de forçar as outras pessoas a mudarem. A inclinação comum de melhorar seu vizinho, de consertar seu cônjuge, de guiar seu filho ou de endireitar seu irmão, em vez de deixá-los ser.
O fanático é uma criatura bastante generosa. é um grande altruísta. Freqüentemente, o fanático está mais interessado em você do que nele próprio. Ele quer salvar sua alma, quer redimi-lo, quer libertá-lo do pecado, do erro, do fumo, de sua fé ou de sua falta de fé, quer melhorar seus hábitos alimentares ou curá-lo de seus hábitos de bebida ou de voto.
O fanático importa-se muito com você, ele está sempre ou se atirando no seu pescoço, porque o ama de verdade, ou apertando sua garganta, caso você prove ser irrecuperável. E, de qualquer modo, falando topograficamente, atirar-se no pescoço de alguém ou apertar sua garganta é quase o mesmo gesto. De qualquer jeito, o fanático está mais interessado em você do que nele próprio, pela razão muito simples de que ele tem um si próprio muito pequeno, ou nenhum si próprio, em absoluto". ( Amós Oz, contra o fanatismo)

E Amós Oz adverte: “Muito cuidado, o fanatismo é extremamente infeccioso, mais contagioso do que qualquer vírus. Pode-se contrair fanatismo facilmente, até mesmo ao tentar vencê-lo ou combatê-lo.

Mas, como podemos reagir ao fanatismo ou nos preservarmos dele?
Com imaginação, é a resposta de Amos Oz: «Sentido de humor, a capacidade de imaginar o outro, a capacidade de rirmos de nós próprios constitui uma cura parcial, a capacidade de nos vermos como os outros nos vêem é um outro remé­dio. A capacidade de conviver com situações cujo final está em aberto, inclusivamente de aprender a desfrutar com essas situações, de aprender a desfrutar com a diversidade, também pode ajudar.

E o que é humor para Amós Oz?

Humor é relativismo, humor é a habilidade de nos vermos como os outros nos vêem, humor é a capa­cidade de perceber que, por muito cheia de razão que uma pessoa se sinta e por mais tremendamente enganada que tenha estado, há um certo lado da vida que tem sempre a sua graça. Quanto mais ra­zão se tem, mais divertida se torna a pessoa. E para ele, “onde temos razão não podem crescer flores”.

E se assim é, todos nós temos um gene fanático dentro de nós...

E o fanatismo, a meu ver, é a tentativa humana de querer mudar o outro...

E para o fanático, conforme prescreve Amós Oz, os fins justificam os meios... Ou seja, vale qualquer coisa para “salvar” o outro daquilo que ele condena...

O fanático é um ser que, embora generoso...

Se faz divino ao assumir o papel de Deus.

Isto porque as Escrituras afirmam que “Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2:13)

Desejar o bem do outro, orar por ele, aconselhar, sofrer junto, estender a mão, não significa e nem pode significar impedi-lo de ser...

O papel de convencer ou converter pertence a Deus, da Sua Essência em nós: o Espírito Santo...

E Graças a Deus por isso.

Nele, que faz crescer flores em nós quando nos despojamos de nossas razões, de nossas certezas, de nossas convicções e apenas O deixamos ser em nós.

E eu não quero ter um si próprio pequeno, mas um Ele próprio em mim, que me guia, me convence, me leva...

Vanessa

3 comentários:

Daiane Landim disse...

Ahh quee liiindo texto!amei!

Eslon Bueno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eslon Bueno disse...

Oi Vanessa, como sempre seus textos são profundo e maravilhosos.
Gostei muito do que Amós escreve sobre o que é o humor.
Quero meditar um pouco mais sobre isso: " Humor é relativismo, humor é a habilidade de nos vermos como os outros nos vêem... Quanto mais ra­zão se tem, mais divertida se torna a pessoa "...
Quero usar seu blog em 2009 como referência em algumas palestras que vou ministrar. Beijo no coração,